Título: Grupo Atacadão está à venda outra vez
Autor: Daniela D'Ambrosio e Chris Martinez
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Empresas &, p. B5

Distribuição Avaliado em cerca de US$ 600 milhões, negócio esteve próximo de ser fechado há dois anos

O grupo Atacadão, que busca um novo dono desde 2002 e há um ano e meio esteve perto de ser comprado por um fundo de private equity, está em vias de voltar a ser oferecido ao mercado. Desta vez, porém, com mais cautela. Concorrente direto do Makro e do Sam's Club (bandeira do Wal-Mart), cujo foco é atender pequenos estabelecimentos comerciais, o Atacadão negocia detalhes para entregar o mandato de venda a um banco de investimento estrangeiro. Procurado pelo Valor, o grupo não se pronunciou.

Um dos mais fortes atacadistas do país, com vendas superiores a R$ 3 bilhões, o Atacadão é considerado um ativo interessante. Quase foi comprado por um fundo da Merrill Lynch em 2004, mas o negócio não vingou porque não houve consenso no preço. A operação estava estimada em US$ 600 milhões, segundo uma fonte que acompanhou as negociações na época. O fundo da Merrill Lynch, segundo essa fonte, queria um desconto no preço pedido pelos acionistas. Os herdeiros do patriarca Paulo Rubens e seu irmão Farid Curi, porém, foram irredutíveis. Na ocasião, o processo de venda sofreu alguns percalços no caminho. Começou com a assessoria financeira do Serfinan e depois o mandato passou para as mãos do Goldman Sachs. O escritório de advocacia escolhido foi o Souza, Cescon Advogados. Além da Merrill Lynch, o Wal-Mart foi convidado a olhar os números do Atacadão. Mais uma vez, a maior rede de varejo do mundo surge como potencial compradora, segundo analistas do setor. Até porque o Wal-Mart acaba de fortalecer a operação de varejo ao adquirir o Sonae no Sul, depois de já ter comprado o Bompreço no Nordeste. Faria todo sentido, portanto, investir agora no seu braço com perfil atacadista, o Sam's Club. Fracassada a operação de venda, em 2004, os acionistas do Atacadão optaram por arrumar a casa. Há um ano e meio, contrataram a consultoria Bain & Company para assessorá-los nesse processo. Procurada pelo Valor , a consultoria não indicou um executivo para falar sobre o assunto até o fechamento desta edição. Apesar de diferentes fontes do varejo confirmarem que o Atacadão está novamente em busca de um comprador, o Valor apurou que a operação ainda está em fase embrionária. O negócio deve efetivamente evoluir em 30 dias. De origem familiar, o Atacadão era até 2004 líder do setor no país. Mas, há dois anos, parou de informar os seus dados à Abad (associação do setor) e saiu do ranking oficial. O Makro subiu de posição e deixou o posto de vice-colocado para o Arcom. No Brasil, o ramo de atacado tem algumas peculiaridades. A maior parte das empresas é de origem familiar, regional e se encaixa no perfil de atacado que tem centros de distribuição, ou seja, compra mercadoria da indústria e as revende para o pequeno varejo. É o caso de redes como o Martins, de Uberlândia, um dos maiores do país. "Eles têm a sua própria equipe de venda e atendem o varejo onde a indústria não consegue chegar", observa a consultora Cynthia Durand, da Integration. O Atacadão, o Makro e o Sam's Club também são atacadistas, mas têm o formato de "carry and cash" - o consumidor cadastrado vai até as lojas, compra as mercadorias e as leva. No Brasil, apenas esses três grupos têm abrangência nacional.