Título: Abertura é insuficiente para gerar crescimento
Autor: Tatiana Bautzer e Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Finanças, p. C1
A abertura comercial apoiada pelo Banco Mundial (Bird) nos países em desenvolvimento não foi eficiente para aumentar as exportações e taxas de crescimento, nem para reduzir a pobreza, afirma um relatório do próprio organismo. O Grupo de Avaliação Independente (IEG, na sigla em inglês), órgão de fiscalização do Banco Mundial, analisou US$ 38 bilhões em empréstimos para 117 países feitos entre 1987 e 2004. "A liberalização comercial é insuficiente para gerar crescimento e reduzir a pobreza", disse o diretor do IEG, Vinod Thomas. Os 500 empréstimos para estimular maior abertura da economia representaram 8,1% do total de desembolsos do Bird e foram eficientes em promover a liberalização. Nos casos estudados na América Latina, por exemplo, a tarifa média de importação caiu de 25,9% para 12,5%. As barreiras não tarifárias caíram de 33,6% do total para 6,6%. Thomas ressalta que os resultados econômicos em cada país não dependeram do nível de reformas adotadas por eles. O Brasil e a Índia, por exemplo, são considerados países "moderados" nas reformas visando abertura comercial, mas tiveram resultados díspares. O crescimento econômico na Índia supera continuamente os 7% ao ano, enquanto o Brasil atravessou períodos de retração e taxas de crescimento que raramente superaram os 3% nas últimas décadas. O nível de abertura comercial (exportações e importações em relação ao PIB) é de 30% no Brasil e pouco abaixo disso na Índia. "Acho que há diferenças expressivas em relação à qualificação da mão-de-obra, à qualidade do ensino secundário, em relação ao ambiente de negócios e também em relação a regimes regulatórios para alguns setores, como o de tecnologia e serviços, que explodiram na Índia", diz. O IEG conclui que o Banco Mundial precisa preocupar-se mais com políticas sociais que amenizem o impacto da abertura comercial para populações afetadas, e incentivar medidas para estimular a diversificação de exportações, reduzindo o impacto de preços de commodities, por exemplo, sobre a balança comercial. Nos casos de países africanos analisados, os três maiores produtos caíram de uma participação de 60% para 54% do total da pauta, e na América Latina, de 34% para 30%. "A visão do Bird era muito estreita e não concentrou-se no que interessa para realmente aumentar exportações. Conseqüentemente, foram feitas estimativas muito otimistas sobre os benefícios do comércio internacional e sua influência no crescimento econômico", afirma o relatório. Segundo o estudo, desde a década passada o Bird começou a incorporar mais desses instrumentos nos empréstimos voltados à abertura comercial. Entre 1987 e 1995, 31% dos créditos incluíram medidas para atenuar o impacto social da abertura. Na última década, o percentual aumentou para 38%. O organismo acredita que os resultados poderiam ser melhores se especialistas de diversas áreas do Bird trabalhassem juntos nos projetos, incluindo macroeconomistas e especialistas setoriais em agricultura, serviços e desenvolvimento do setor privado. (TB)