Título: Acordo com o Irã em debate
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2010, Mundo, p. 27

Impasse nuclear

Lula recebe o premiê turco para analisar a reação do Ocidente à Declaração de Teerã e responder às questões em aberto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, discutirão hoje, em Brasília, pontos do impasse nuclear com o Irã ainda não resolvidos pela Declaração de Teerã o acordo assinado pelos três países no último dia 17, prevendo a troca de urânio iraniano por combustível para reatores. Na lista devem entrar preocupações reiteradas pelas potências ocidentais mesmo após a divulgação do acordo, como o aumento do estoque de urânio do Irã desde outubro, quando a troca foi discutida pela primeira vez, e a disposição afirmada pelo regime islâmico de continuar a enriquecer urânio. Segundo o Planalto, os dois governantes também debaterão modos de não permitir que o diálogo seja interrompido o que poderá ser apresentado para outros líderes presentes no Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, que se reúne no Rio de Janeiro a partir de amanhã.

O que os líderes tentarão fazer é dialogar sobre como se pode fazer com que esse esforço diplomático possa ter continuidade, para não desperdiçar a oportunidade que foi criada pela Declaração de Teerã, disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. O assessor confirmou que o presidente americano, Barack Obama, recebeu na última terça-feira uma carta na qual Lula alertou sobre o risco de retrocesso. O presidente também enviou cartas aos colegas francês, Nicolas Sarkozy, e russo, Dmitri Medvedev, à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e ao governo do México, que assumirá, na próxima semana a Presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Essas iniciativas todas visam a esclarecer a visão brasileira sobre a importância e as implicações da declaração, prosseguiu o porta-voz. Segundo Baumbach, o governo brasileiro acredita que a decisão sobre uma nova rodada de sanções contra o Irã, em debate no Conselho de Segurança, ainda vai demorar um pouco. O Brasil continuará, nesse meio tempo, empenhado em fomentar o diálogo e impedir que essa porta aberta com a Declaração de Teerã venha a se fechar.

Amanhã, o Irã também deverá ser tema do encontro no Rio, que terá na abertura discursos de Lula e Erdogan. Na plateia estarão representantes de todos os membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China) e de sete dos 10 não permanentes além do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Chefiando a delegação dos Estados Unidos, que aderiu há apenas duas semanas ao grupo de amigos da Aliança das Civilizações, estará a subsecretária de Estado para organismos internacionais, Esther Brimmer. Entre os chefes de Estado e governo que confirmaram presença estão os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Argentina, Cristina Kirchner, além do premiê espanhol, José Luis Rodrígues Zapatero.

Demagogia política O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, insistiu ontem para que Washington e Moscou apoiem o acordo selado com Brasil e Turquia para a troca de urânio, porque não haverá outra oferta. A declaração de Teerã constitui a melhor oportunidade (para resolver o impasse). Demos um grande passo à frente e dissemos algo muito importante. Já não existem mais desculpas, argumentou, em declaração à TV estatal. Se Obama não aproveitar essa oportunidade, os iranianos certamente não lhe darão outra.

Ahmadinejad ainda criticou Medvedev por sentar-se ao lado daqueles que por 30 anos foram inimigos dos dois países. Esperamos que os dirigentes russos reagirão e não forçarão os iranianos a considerá-los da mesma maneira que seus inimigos históricos, ameaçou. Moscou, no entanto, logo rebateu as críticas. Ninguém consegue conservar sua autoridade ao utilizar a demagogia política, respondeu Serguei Prikhodko, conselheiro diplomático do Kremlin.

OBAMA SOBE NAS PESQUISAS Pela primeira vez no ano, a taxa de aprovação do presidente Barack Obama superou o índice dos que reprovam o seu desempenho. De acordo com uma pesquisa da Universidade Quinnipiac, 48% dos entrevistados se disseram satisfeitos com o governo, contra 43% que avaliaram como insatisfatório o desempenho de Obama. Um mês atrás, a mesma pesquisa tinha apontado 44% de aprovação e 46% de reprovação ao presidente. A tendência se reflete na corrida para a renovação parcial do Congresso, em novembro: 42% se inclinam a votar em um candidato democrata (governista), enquanto 36% pendem para a oposição republicana.