Título: Analistas enxergam boas perspectivas para as sider
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, EU &, p. D2

Balanço Setorial Crescimento da demanda local e recuperação dos preços do aço no exterior favorecem empresas

Depois de um 2005 difícil e de grande volatilidade para as siderúrgicas, os analistas vislumbram boas possibilidades de ganhos. O crescimento da demanda interna, movido pelas indústrias automobilística, naval e de construção civil, indica um panorama menos turbulento neste ano. No mercado internacional, a recuperação dos preços siderúrgicos e a permanência de Estados Unidos, Europa e China como consumidores finais do aço brasileiro tendem a manter as vendas externas como uma das principais vias de escoamento da produção. O câmbio valorizado e o rumo das cotações das commodities são, porém, aspectos que merecem ser monitorados. Em geral, os analistas estão otimistas com setor. Segundo dados compilados pela Thomson One Analytics, a maioria das ações têm recomendação de compra e as principais indicações concentram-se em Usiminas PNA e Gerdau PN. "No segundo semestre de 2005, houve forte queda da demanda externa num momento em que os preços do aço estavam caindo, sendo duplamente desfavorável para as siderúrgicas, mas neste ano temos um cenário exatamente oposto", diz a analista da Bradesco Corretora Ana Cristina Ibri. A favor das empresas nacionais ela cita os baixos custos de produção, o que possibilita maior competitividade em relação às estrangeiras, margens atrativas e forte geração de caixa. A principal recomendação de Ana Cristina no setor é Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ON, que conta com uma mina própria, a Casa de Pedra, responsável pelo suprimento integral de minério de ferro, o que favorece a estrutura de custos da empresa. O seu preço-alvo para o papel é de R$ 77,00, o que embute um potencial de valorização de 22,8%, considerando-se a cotação de ontem na Bovespa. As indicações de compra da analista se estendem a Usiminas, Gerdau e Gerdau Metalúrgica. Vale lembrar que o cálculo de preço-alvo para qualquer ação leva em conta as projeções de resultados para a empresa avaliada, mas depende das condições de mercado e de procura pelo papel para se concretizar. Mas os riscos de se investir nas siderúrgicas residem no fato de o setor concentrar boa parte da liquidez da Bovespa e estar muito atrelado aos vaivéns das commodities, conforme assinala o gestor da Máxima Asset Management André Querne. E, enquanto há dúvidas sobre o rumo da política monetária e da atividade econômica nos Estados Unidos, tão mais difícil é assegurar que esse tipo de aposta se dará sem sobressaltos. "Se o cenário de liquidez externa não mudar e a China crescer bem nos próximos dois, três anos, isso torna o setor novamente atrativo no médio prazo", diz. Embora considere as ações das siderúrgicas de grande qualidade, no portfólio, Querne prefere Usiminas, pelo desconto que tem em relação às demais. Ele calcula, por exemplo, que o índice conhecido como EV/Ebitda - que é a relação entre o valor da empresa e a sua geração de caixa operacional e que dá uma idéia do prazo de retorno do investimento e, portanto, quanto menor, melhor - da empresa esteja em 3,5 anos, ante 4,5 anos da CSN e Gerdau. Para as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Usiminas, ele tem um preço-alvo projetado de R$ 95,00, o que traz a possibilidade de alta de 31% sobre o fechamento de ontem na Bovespa. Querne diz ter incluído recentemente as ações ON na carteira, em substituição às PNA, mais líquidas. Isso porque ele não descarta a possibilidade de que movimentos de consolidação no mercado mundial acabem por refletir em reestruturações também por aqui. Os dirigentes da Usiminas já manifestaram a intenção de buscar parcerias no exterior para escoar a produção de uma nova unidade e entre os acionistas a empresa conta com a japonesa Nippon Steel. A Arcelor Brasil - resultante da união da Companhia Siderúrgica de Tubarão com a Belgo Mineira -, por sua vez, acabaria entrando no pacote se a oferta da indiana Mittal Steel de compra hostil pelo Grupo Arcelor prosperasse. "A consolidação é um passo importante para fortalecer a indústria e reduzir o número de participantes, principalmente na China", diz o analista da Geração Futuro Luiz Alberto Binz. "A tendência é de que os grupos ganhem tamanho, disciplinem e controlem melhor a produção, permitindo menor volatilidade nos preços dos produtos siderúrgicos e mantendo, na medida do possível, os estoques em níveis adequados." Os clubes e fundos de investimentos administrados pela corretora incluem uma participação de 20% em papéis da Gerdau e da Usiminas. Já Catarina Pedrosa, do Banif Primus, é a voz dissonante entre os analistas e recentemente rebaixou a recomendação para o setor. Ela considera que os papéis subiram demais a reboque do aumento dos preços do aço e em meio a expectativas de que a oferta da Mittal pela Arcelor desencadeasse uma rodada de fusões e aquisições. A especialista mantém indicações para Gerdau PN, com preço-alvo em R$ 67,00, ante R$ 50,20 de ontem, e, para Arcelor Brasil ON, avaliada em R$ 41,25, em comparação aos R$ 33,95 atuais. Catarina sugere, porém, que o investidor interessado no setor espere a poeira baixar, já que a bolsa tem mostrado volatilidade razoável nos últimos dias e dá para se prever preços mais atrativos mais à frente.