Título: Governistas do PMDB querem antecipar convenção
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Política, p. A8

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) mantendo a regra da verticalização nas eleições deste ano acirrou o confronto entre o ex-governador Anthony Garotinho - escolhido em consulta informal do PMDB como pré-candidato à Presidência da República - e a ala governista do partido. Garotinho insiste em manter-se na disputa pelo menos até junho, mês das convenções nacionais destinadas à homologação dos candidatos. Já os governistas querem antecipar a convenção para abril, na tentativa de enterrar de vez o projeto do ex-governador. Nesse enfrentamento, a turma de Garotinho acusa o governo de pressionar parlamentares com oferta de cargos ou - para quem já os possui - ameaças de demissão. Do outro lado, os adversários acusam o ex-governador de usar todos os meios disponíveis para cooptar aliados. O lado visível dessa guerra de -bastidores foi a troca de agressões físicas e verbais entre deputados das duas alas por volta de meia noite da última quarta-feira, na Secretaria Geral da Mesa da Câmara. Os dois grupos disputavam quem entregaria por último uma lista de assinaturas indicando um líder da bancada, já que vale a última lista protocolada no dia. Venceram os governistas, que conseguiram destituir Waldemir Moka (MS), e substituí-lo por Wilson Santiago (PB) - que havia sido destituído dias antes por uma manobra da ala oposicionista. Os mais exaltados eram Nelson Bornier (RJ), aliado de Garotinho, Hermes Parcianello (PR), aliado do governo, e Max Rosenmann (PR), que quebrou um copo e feriu a mão. Na briga, funcionários e equipamentos foram atingidos e um documento (uma das listas protocoladas) desapareceu. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), determinou abertura de sindicância para apurar responsabilidades. E adiou para quarta-feira a eleição dos integrantes das comissões técnicas da Casa, que são indicados pelos líderes. A eleição das comissões estava marcada para ontem. Até quarta-feira, a liderança está sujeita a nova troca, já que basta a coleta de novas assinaturas. Além da correlação de forças nas comissões e na divisão de cargos da Câmara, por trás do interesse pela liderança está em jogo a disputa entre os pemedebistas favoráveis e os contrários à candidatura própria a presidente. Está marcada para a próxima quarta-feira reunião da Comissão Executiva Nacional do PMDB, destinada à convocação de uma convenção do partido em 7 de abril, como querem os governistas. Devem ser discutidas as alianças estaduais, os rumos do partido e a conveniência ou não da candidatura própria. O líder da bancada é um dos 16 integrantes da Executiva. Numa disputa acirrada, um voto pode decidir. Os governistas acreditam que a convenção rejeitará a candidatura própria, por causa do engessamento imposto pela verticalização nas alianças estaduais. Para os governistas, o ex-governador sabe que não tem chance de sair candidato e insiste na disputa somente para se valorizar e tomar para si a interlocução do partido com o governo - função hoje nas mãos do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e do senador José Sarney (AP). Em esvaziada sessão em homenagem aos 40 anos do PMDB, Sarney e Renan deram recados claros ao ex-governador, em seus discursos. "O partido não tem dono", disseram. Segundo aliados seus, Garotinho insistirá na candidatura. "Garotinho é candidatíssimo a presidente e não vai recuar", disse Bornier. O ex-governador também aumenta seu cacife na negociação eleitoral. Um tucano disse que, para o governador Geraldo Alckmin ter um palanque forte no Rio de Janeiro, caso o prefeito Cesar Maia não dispute, uma boa idéia seria o PSDB apoiar o candidato de Garotinho, o senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).