Título: Conselho recomenda cassação de Mentor
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Política, p. A12

Crise Relator, que recomendara absolvição, foi derrotado por 8 votos a 6 e substituído por pemedebista

O Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem o pedido de cassação do deputado José Mentor (PT-SP). O relator do processo, Edmar Moreira (PFL-MG), havia recomendado a absolvição do colega das acusações do recebimento de R$ 120 mil do valerioduto. O colegiado derrubou o relatório do pefelista por oito votos a seis e o deputado Nelson Trad (PMDB-MS) foi designado para redigir o voto vencedor a ser enviado ao plenário da Câmara. A cassação de Mentor só foi possível com a mudança de posicionamento do próprio Nelson Trad. Integrantes do Conselho aguardavam voto do pemedebista favorável ao petista. Havia expectativa também sobre como votariam os tucanos Carlos Sampaio (SP) e Mendes Thame (SP): os dois optaram pela cassação. Ontem, Trad disse que estava confuso quanto ao caso de Mentor e não tinha uma opinião firmada. Ao votar pela cassação do colega, fez longa e curiosa justificativa. "No conselho, como tenho dúvidas, voto pela sociedade", afirmou o pemedebista para, imediatamente, mostrar disposição em votar pela absolvição de Mentor no plenário. "No Conselho, em dúvida sou pró-sociedade. No plenário, se eu continuar em dúvida, serei pró-réu", afirmou. Se o dilema de Trad persistir, ele será obrigado a ler o relatório pela cassação do petista aprovado pelo Conselho de Ética e, quando depositar o voto na urna, optar pela absolvição. A situação foi criada pelas regras do próprio colegiado. Como o relator foi vencido, cabia ao presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), indicar um novo relator. Dentre aqueles que votaram pela cassação, três são deputados por São Paulo. E o regimento do conselho não permite relator e réu do mesmo estado. Chico Alencar (P-SOL-RJ) rejeitou o pedido de Izar por ter pertencido ao PT, partido de Mentor. Júlio Delgado (PSB-MG) foi descartado pelo presidente do colegiado por ter divergências sérias com Edmar Moreira, o relator. Ambos são inimigos políticos em Juiz de Fora (MG). Sobraram Moroni Torgan (PFL-CE), Jairo Carneiro (PFL-BA) e o indeciso Trad. Os dois pefelistas não aceitaram redigir texto para substituir relatório de um companheiro de partido - apesar de terem votado contrariamente ao colega. Sem opções, Izar escolheu Trad para relatar a cassação em plenário. Além do recebimento de R$ 120 mil do valerioduto, Mentor também é acusado de favorecer o Banco Rural quando foi relator da CPI do Banestado. Suspeita-se que, por influência de Marcos Valério de Souza, tido como o operador do mensalão, o petista tenha facilitado a vida dos dirigentes da instituição financeira. Mentor nega qualquer favorecimento e alega ter recebido o dinheiro por conta de serviços jurídicos prestados por seu escritório a uma empresa de Marcos Valério. Delgado havia pedido vista do processo quando Edmar Moreira leu seu relatório, na última terça-feira. Ontem, bateu na tecla do favorecimento. "Há uma profunda coincidência entre os requerimentos da CPI do Banestado, os pagamentos dos serviços jurídicos e os encontros do deputado Mentor com Valério", afirmou o deputado. Para Chico Alencar, o Conselho não teve "a chancela do desinteresse dessa relação. O serviço deveria ter sido rejeitado imediatamente pelo escritório do deputado, já que ele era da CPI do Banestado e Marcos Valério ela lobista do Rural, investigado pela comissão". Ann Pontes (PMDB-PA) saiu em defesa de Mentor. Lembrou as notas fiscais apresentadas pelo petista como prova de que não houve caixa 2. Tentou mostrar também que o Rural não foi beneficiado, já que o banco foi citado no relatório final e indiciado pela Polícia Federal. O Conselho de Ética terá de votar o novo relatório, a ser redigido por Trad, antes de enviá-lo ao plenário.