Título: Presidente da Caixa manda advogado entregar nomes dos suspeitos à PF
Autor: Thiago Vitale Jayme e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A14

A Caixa Econômica Federal encaminhou à Polícia Federal os nomes dos dois funcionários suspeitos de terem vazado o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Mas autoridades dizem que a linha mais provável de investigação aponta para um pedido das informações por alguém de fora da Caixa, com ascendência sobre a instituição. Dentro da Caixa, havia descontentamento pelo fato de a responsabilidade sobre o vazamento da informação estar caindo sobre o banco. Fontes argumentavam que, isoladamente, seus funcionários não poderiam ter conhecimento dos dados bancários do caseiro. Uma hipótese a ser investigada, lembrou uma fonte, é a Caixa ter repassado informações a instituições que, por lei, têm direito a requisitá-las. De forma reservada, a Caixa também procurava rebater as informações de que seus controles internos falharam no episódio. A explicação vinda dessa área do banco é que menos de 12 horas depois de aberta a investigação, a instituição já tinha os nomes dos dois suspeitos, já que o sistema de informática registra acessos aos dados de clientes. A Caixa só encaminhou ontem as informações à PF, porém, porque pretendia, a partir de cópia de documento entregue pela revista "Época", conferir se a origem do vazamento havia realmente sido a instituição. Entre as preocupações do banco estava ainda preservar o devido processo legal para, no caso de punição, ela não ser revogada judicialmente. Na Caixa, havia preocupação com danos de imagem provocados pelo episódio - inclusive sobre noticias de que o vazamento da informação pudesse levar a intervenção do Banco Central. Medidas com esse alcance, afirma uma fonte, só ocorrem quando há patrimônio líquido negativo ou quando ocorre crise de liquidez. Eventuais irregularidades cometidas por dirigentes são apuradas em processos contra as pessoas físicas, que podem levar a punições que vão desde multa até inabilitação para exercer funções no sistema financeiro. Nos últimos dois dias, circularam boatos sobre uma possível demissão do presidente da Caixa, Jorge Mattoso, que foram negadas ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não faz nenhum sentido. Mesmo porque sou eu que tenho que tomar uma decisão. Quando tiver alguma coisa, eu comunico." Mattoso deveria ter feito depoimento ontem na PF, mas enviou o advogado Jailton Zanon da instituição em seu lugar. Zanon entregou dados parciais sobre as investigações feitas pela Caixa. Os ministros da coordenação política reuniram-se na manhã de ontem no Planalto com os líderes governistas do Congresso. Os parlamentares, pressionados pelas críticas da oposição, foram cobrar agilidade do governo para desvendar o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. A maior preocupação dos aliados era o prazo dado pelo próprio presidente da Caixa Econômica, Jorge Mattoso, de que o mistério estaria solucionado em 15 dias. "Estão falando que isso levaria no máximo dois dias, como é isso? A oposição está dizendo que esse prazo de 15 dias é para encontrarmos um bode expiatório", disse um aliado. Um dos integrantes do governo declarou que ligara novamente para Mattoso e que o presidente da Caixa frisou que o prazo de 15 dias não significa que o resultado da auditoria só será conhecido daqui a duas semanas. "Ele (Mattoso) nos disse que esse seria o tempo suficiente, já que podem ter vários funcionários na mesma sala, eles podem trocar as senhas, o que dificultaria as investigações". Segundo um aliado, a ordem continua mantida: "Descobrir, revelar e punir. Inclusive haverá uma responsabilidade hierárquica, caso se conclua que o servidor da Caixa não agiu por conta própria e sim, obedecendo ordens". Apesar de fazer parte da coordenação política, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, só apareceu no fim da reunião. "Ele não falou nada, apenas tomou um café", assegurou um dos participantes.