Título: Indígenas não reconhecem mais governo do Equador
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Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Internacional, p. A16

O movimento indígena do Equador, que contesta a negociação de um acordo comercial com os EUA, afirmou ontem que não reconhece mais o governo do país e classificou o presidente Alfredo Palacio de ditador. Protestos indígenas derrubaram três presidentes desde 1997. "Em vista da falta de capacidade em direcionar o conflito a uma solução e já que não há iniciativa alguma para resolver os problemas do país, decidimos não reconhecer o governo", disse Luis Macas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). Ontem, houve confrontos violentos da polícia com com cerca de 300 estudantes e 200 indígenas que tentaram invadir o palácio presidencial, na capital Quito. A Conaie, maior organização indígena do país, protesta há dez dias contra as negociações, reiniciadas ontem, de um tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. A associação alega que agricultores e pequenos produtores indígenas não terão chances de competir com produtos importados americanos, que seriam mais baratos por contarem com forte subsídio do governo dos EUA. As negociações devem continuar até a próxima semana. Espera-se que o acordo seja fechado no início de abril. O presidente Palacio rejeitou ontem novamente a demanda do Conaie de suspender as negociações e deu a opção de se votar o acordo comercial num referendo nacional. "Primeiro precisamos finalizar as negociações. Só então o governo apresentará o TLC ao Congresso. E, se as pessoas quiserem um referendo, discutiremos o assunto", disse. Palacio também rejeitou a proposta da Igreja Católica de mediar as negociações entre o governo e o movimento indígena. Milhares de pessoas bloquearam estradas, interrompendo o trânsito e o comércio na região andina, como forma de pressionar Palacio a abandonar a acordo. Par enfrentar os protestos, o governo decretou estado de emergência em cinco províncias, o que impõe toque de recolher, proíbe manifestações públicas e estenda aos militares o poder de prisão. Cerca de 400 soldados foram destacados para desbloquear as estradas. O porta-voz da polícia, Juan Zapata, disse que não foram registrados casos de prisões e ferimentos. O líder indígena Jorge De La Torre desmentiu a informação, afirmando haver "seis companheiros feridos e dez presos". Os protestos já provocaram prejuízos de US$ 150 milhões, segundo o presidente da Federação Nacional de Câmaras de Comércio, Blasco Peñaherrera. "Em termos econômicos, o impacto foi de US$ 15 milhões ao dia", disse Peñaherrera, cuja organização é uma das principais promotoras do TLC no país. Segundo ele, os setores mais afetados foram o de flores e frutas.