Título: Ministros vão ao Japão negociar fábrica
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Empresas &, p. B3

TV digital Governo espera conseguir novas contrapartidas para a produção de semicondutores no país

O comitê de ministros responsáveis pela análise do padrão de TV digital a ser adotado no Brasil fará uma viagem conjunta, em até duas semanas, para o Japão e para a Coréia do Sul. A intenção do "tour" asiático, cuja data exata ainda depende da agenda de cada ministro, é arrancar novas contrapartidas dos governos e das empresas locais para a instalação de uma fábrica de chips no país. Integram o grupo os ministros Hélio Costa (Comunicações), Dilma Rousseff (Casa Civil), Antônio Palocci (Fazenda) e Luiz Furlan (Desenvolvimento). A viagem foi divulgada ontem por Costa, que aproveitou o anúncio para fazer novos elogios aos japoneses do sistema ISDB e criticar duramente a oferta do consórcio europeu DVB. Ele qualificou a proposta européia de "blefe". Na visita, os ministros vão entrar em contato com autoridades dos governos japonês e coreano, além dos principais executivos das empresas nipônicas Toshiba, Sony, Panasonic, NEC e da coreana Samsung. "Em vez de eles virem aqui de novo, iremos até lá e passaremos pela Coréia por uma razão estratégica", disse Costa. Segundo ele, os entendimentos para a instalação de uma fábrica de chips no Brasil vão "muito bem" e a viagem deverá ajudar no processo de barganha. O ministro ponderou, no entanto, que a realização da visita não significa que a decisão sobre o padrão de TV digital está tomada, mas ela inevitavelmente dá um forte sinal de qual é a inclinação no Palácio do Planalto. "Quem decide é o presidente da República", afirmou. Costa disse que os ministros se dispõem a organizar uma ida também à Europa, mas acrescentou que as ofertas apresentadas até agora pela Coalizão DVB não justificam a viagem. Ele desdenhou da proposta feita pela empresa franco-italiana ST Microelectronics, que teria o objetivo de iniciar a produção de semicondutores no Brasil. De acordo com o ministro, a ST quer montar no país apenas um "design center" semelhante ao que a Motorola já tem em São Paulo, que empregaria 180 pessoas. Em longa entrevista coletiva, o ministro rompeu o silêncio que havia adotado desde que o presidente Lula ignorou o prazo de 10 março e decidiu ampliar as consultas sobre a escolha do sistema de TV digital. A posição de Costa, de pressionar publicamente o governo por uma definição e de privilegiar o padrão japonês pelos seus aspectos técnicos, contrasta com a postura de Furlan - que tem simpatia pelo sistema europeu, coloca a atração da fábrica de semicondutores como prioridade e acha que a negociação rende mais quando se escondem as preferências. O ministro das Comunicações demonstrou irritação com as declarações do comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, que visitará o Brasil na próxima semana. Mandelson alertou que o país poderia ficar "isolado" caso optasse pelo padrão japonês, já que o DVB está presente em 57 países. "Isso é uma balela. É abusar da inteligência dos brasileiros", atacou Costa, acrescentando que a tecnologia européia "não funciona nem para eles". O chefe da delegação da União Européia (UE) em Brasília, embaixador João Pacheco, promete entregar hoje uma nova proposta à ministra Dilma Rousseff. A expectativa é de que o compromisso de trazer uma planta industrial de semicondutores receba o apoio explícito dos países-membros da UE. A ST Microelectronics, porém, evita condicionar a instalação da fábrica à escolha do padrão de TV digital. Costa explicou que a intenção do governo brasileiro é atrair "pequenas unidades" de produção de semicondutores para televisores de plasma ou LCD. Essas fábricas exigem um investimento entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões, segundo o ministro. "Os japoneses são especializados nisso", observou Costa. De acordo com ele, a fabricação local de chips para televisores LCD e de plasma é essencial para manter o fluxo de exportações dos aparelhos para a América Latina. As projeções do ministério indicam que, em 2007, a venda desse tipo de aparelho já vai superar a de televisores "de tubo" no Brasil.