Título: Dólar barato e açúcar mais caro derrubam exportações de balas
Autor: Tainã Bispo
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Empresas &, p. B4

Guloseimas Fabricantes também enfrentam concorrência mais acirrada no mercado interno

A vida dos fabricantes de balas não está nada doce. O mercado externo, a grande aposta do setor há três anos, quando o dólar estava em alta, está mais longe com a valorização do real. A demanda doméstica, que poderia ser a salvação da lavoura, não absorve a produção e a concorrência está mais acirrada. As crianças, o maior público desse tipo de produto, têm hoje oferta maior de guloseimas para comprar e algumas contam, ainda, com a pressão dos pais que defendem uma alimentação com menos açúcar. O Brasil é o terceiro maior produtor de "candies" (balas, drops, pirulitos e gomas de mascar) do mundo e exporta cerca de um quarto da produção, para mais de 150 países. Com a valorização do real, de quase 25% nos últimos 12 meses, e do açúcar, que encareceu mais de 87% no mesmo período, as empresas enfrentam uma combinação perversa para manter as exportações. O açúcar representa entre 20% e 40% do custo de fabricação da bala. Segundo a Abicab, as exportações encolheram 5%, para 146 mil toneladas, em 2005. A produção caiu de 509 toneladas, em 2004, para 484 mil toneladas. O consumo no mercado interno também caiu, de 361 mil toneladas para 343 mil toneladas. A tradicional Balas Juquinha, fabricante de balas e pirulitos fundada em 1945 e conhecida do público infantil, exportava 50% da sua produção até 2004. Hoje, trabalha com apenas um turno e teve o faturamento reduzido pela metade. "Paramos de exportar no ano passado e, para este ano, estamos cautelosos", diz Giulio Sofio, sócio da empresa - a receita alcançada foi de R$ 6,5 milhões no ano passado, ante R$ 10 milhões em 2004. A Balas Juquinha, de Santo André (SP), não é a única que está com problemas. A Riclan, de Rio Claro (SP), viu o lucro líquido cair de R$ 10,8 milhões em 2004, para R$ 776 mil no ano passado. A Simas Industrial, do Rio Grande do Norte, optou por manter as exportações para não perder clientes conquistados nos últimos 25 anos, mas fechou 2005 no vermelho. "Há cerca de três anos, quando o real estava desvalorizado, as empresas de balas fizeram investimentos, visando a exportação", lembra Getulio Ursulino Netto, presidente da associação do setor (Abicab). A Simas, por exemplo, investiu R$ 10 milhões para expandir sua fábrica no Rio Grande do Norte. Algumas empresas até tentaram criar produtos diferentes, mas as novidades não deslancharam. A Florestal Alimentos, do Rio Grande do Sul, vende balas sem açúcar em latinhas redondas, a Bala Flopi, e um pirulito light. Mas, segundo Verno Arend, diretor comercial, "a demanda dessa linha não é igual ao dos produtos com açúcar." A concorrência aumentou. As empresas brasileiras do setor de "candies" produzem balas (mastigáveis, duras e drops), gomas de mascar e pirulitos. Os mesmo produtos (exceto a bala mastigável) também são fabricados pelas multinacionais, como a inglesa Cadbury Adams (Trident e Halls), a italiana Perfetti (Fruittella). Nesse cenário, as companhias estão procurando maneiras de reverter o quadro, intensificando o ritmo de lançamentos. Mas, para alguns, as estratégias não estão funcionando. "O setor está perdido", diz Ivan Schraider, gerente de vendas da Riclan, fundada na década de 40 e que produz as marcas Freegells, Fruit All, TNT, além de barras de cereais, chicletes e balas de goma. "Nós exportamos há 30 anos e, até 2004, a quantidade comercializada representava 20% da receita da empresa", diz Schraider. Neste ano, a previsão é de exportar 5% da produção ou até parar. O executivo diz que linhas de produção foram desativadas e funcionários demitidos. "Tentaremos, agora, agregar valor aos produtos com qualidade e novos sabores." A Dori Alimentos, de Marília (SP), terá a exportação cortada para 15% da produção. "Em 2004, chegamos a exportar 25%", diz João Barion, diretor presidente. "Nós só iremos manter esse percentual para não perdermos clientes que conquistamos durante 12 anos de trabalho." A Simas, que vende as marcas Gellada Eucalipto e Sortidos Sam's, populares no Norte e Nordeste do país, segundo Sílvio Eduardo Gadernas, gerente de marketing, deverá exportar o equivalente a 30% da receita neste, mas com prejuízo. "Iremos investir em novos produtos e embalagens este ano", diz. Uma das empresas que estão confiantes na retomada do mercado interno é a gaúcha Florestal Alimentos, que fabrica balas, gomas de mascar, pirulitos e chocolate. "Iremos lançar um produto por mês", diz Verno Arend, diretor comercial da empresa. Segundo ele, o faturamento, de R$ 190 milhões em 2005, crescerá entre 7% e 10% este ano. "Estamos investindo em lançamentos. Os consumidores são muito curiosos e gostam de novidade." A Dori Alimentos, que fabrica as balas Yogurte 100 e Hortelã Recheada, trabalha com a previsão de crescer cerca de 8%, com a receita indo a R$ 285 milhões. O mix diversificado (além de balas, fabrica chocolates e guloseimas de amendoim) deve ajudar.