Título: Coreanos e chineses fazem as melhores ofertas pela Novoeste
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2006, Empresas &, p. B7

Ferrovias Corredor de bitola estreita, considerado o "patinho feio, liga Corumbá (MS) ao porto de Santos

A trading coreana Asila saiu na frente na disputa pela Novoeste Brasil, o corredor ferroviário de bitola estreita que corta o Mato Grosso do Sul e chega a Santos. Apresentou a melhor das quatro ofertas de compra da empresa, mas sua proposta é seguida de muito perto pelos chineses da Jianscsu Zhongye, grupo asiático do setor siderúrgico e de manganês. Conformou apurou ontem o Valor, a companhia boliviana de capital americano Ferrocarril Oriental e a brasileira ALL ficaram na lanterninha da briga pela Novoeste. Segundo fontes que tiveram acesso às propostas de compra, apresentadas na quarta-feira, a maior surpresa é que as ofertas pela Novoeste superaram - não em valor absoluto, mas comparativamente - em muito a oferta feita pela Brasil Ferrovias, composta pelas malhas da Ferronorte e da Ferroban, ambas de bitola larga. Isso contraria a previsão do mercado, que muitas vezes se refere à Novoeste como o "patinho feio" do grupo e esperava concorrência acirrada pela corredor de bitola larga. A ALL foi a única a entregar proposta para esse corredor, mas não entusiasmou os acionistas. Para levar os dois corredores juntos, condição que impôs para validar suas propostas individuais, a ALL precisará melhorar o valor que pretende pagar pela compra das empresas, disse uma fonte que participa ativamente do processo. Ao mesmo tempo em que as ofertas pela Novoeste foram recebidas com relativa surpresa, a ausência de competição pelas malhas de Ferronorte e da Ferroban pode fazer com que os principais acionistas - BNDES, Previ e Funcef - revejam a abrangência do negócio. Para eles, a melhor notícia até o momento é que a Novoeste não vai "micar" e já tem sua venda praticamente garantida. O que explica a agressividade dos coreanos é que eles atualmente precisam chegar ao porto de Santos para escoar a produção de matérias-primas destinadas à sua indústria. A carga passa pelo Canal do Panamá e segue em direção à Ásia. Com a eventual aquisição da Novoeste, poderão carregar os produtos até a fronteira com Bolívia, integrando no médio prazo a logística com as ferrovias do país e chilenas, atingindo o porto de Antofagasta, no Chile. Isso daria nova opção de frete de menor custo via Pacífico. A ofensiva dos chineses se justifica pelo interesse do grupo Jianscsu Zhongye na mina de Urucum, em Corumbá (SP) com reservas estimadas em 22 milhões de toneladas de minério de ferro e 7 milhões de toneladas de manganês. A concretização do negócio agora depende do quanto a ALL vai querer avançar na sua proposta. Segundo as fontes ouvidas pelo Valor, ela será procurada para melhorar o valor oferecido pela Novoeste e pela Brasil Ferrovias. Se elevar bastante a oferta por Ferronorte e Ferroban, os acionistas poderão aceitar um preço menor pelo corredor de bitola estreita. Mas eles já chegaram a uma conclusão: a venda da Novoeste Brasil pode ser feita separadamente, deixando para nova fase a Brasil Ferrovias, tida como "filé mignon". Essa possibilidade começa a ganhar força. Pela manhã, em audiência pública na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, o presidente do conselho do grupo Brasil Ferrovias, Guilherme Lacerda, afirmou que os acionistas querem concretizar a venda até o fim de abril. Mas isso, sublinhou o executivo, só se as ofertas forem "satisfatórias". Se não agradarem, os acionistas não devem ter pressa e a venda pode ser adiada. Ressalvando que falava pela Funcef, que possui 24,5% das ações da Brasil Ferrovias, Lacerda ressaltou: "Se não vendermos agora, vamos vendê-la por mais na frente", disse. "A empresa tem problemas? Sim, mas tem também potencial enorme e é sob essa premissa que vamos negociar, vendendo o futuro; não o passado." O formato de venda separada dos dois ativos - com donos diferentes - agrada a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que regula o setor. O diretor-geral da ANTT, José Alexandre Resende, disse que o órgão não quer nem pode interferir no processo, mas avalia a venda das três malhas sob o aspecto regulatório. "Do ponto de vista dos usuários, seria adequado ter duas operadoras distintas", afirmou. lembrou que a agência só participará do negócio conferindo se o futuro vencedor da disputa atende às exigências fiscais, jurídicas e técnicas. "De certa forma, Ferronorte e Novoeste concorrem entre si. É mais salutar que haja dois grupos distintos, porque o preço tende a cair, mas não há nada contra um grupo só." O senador Delcídio Amaral (PT-MS), autor do requerimento da audiência pública, tem avaliação oposta. "Vender a Novoeste dissociada da Ferroban e da Ferronorte é impróprio, já que a Novoeste termina em Mairinque (SP), que não é destino, é passagem", observou Delcídio. "Os dois pares de trens sugeridos no contrato de direito de passagem entre Novoeste e Ferroban, que permitiria aos trens da Novoeste trafegarem entre Mairinque e o porto de Santos pelas linhas mistas da Ferroban, estagnarão a capacidade de transporte da Novoeste em 3,5 milhões de toneladas transportadas em 2005."