Título: Analistas prevêem cenário negativo para Embraer
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2004, Empresa, p. B7

Aviação Relatórios divulgados nos últimos dias reduzem projeções de receita e de preço da ação

Um após o outro, os analistas de mercado que seguem a Embraer estão divulgando relatórios em tom pessimista sobre as perspectivas para os próximos três anos. As estimativas de receita e também de preço da ação são revisados para baixo. O que forneceu munição para os relatórios foi o encontro anual da empresa com os analistas, concluído na sexta. Dois dados determinaram o movimento. Pela primeira vez, a Embraer divulgou sua estimativa de entregas para 2006: 145 jatos. O número ficou muito aquém do que era consenso entre os analistas, algo entre 170 e 180 aviões. "Se isso realmente acontecer, serão três anos seguidos com a mesma quantidade de entregas - 2004, 2005 e 2006 -, o que mostra um mercado bem fraco", afirma Oswaldo Telles Filho, analista do Banif Investment Banking. Ele reduziu em 2,1% a sua previsão de preço-alvo para a ação preferencial da Embraer, que agora está em R$ 23,50. Com relação ao ADR negociado em Nova York, a redução foi de 5,4%, para US$ 31,40. Há quem acredite que, cansada de ser obrigada a rever para baixo suas projeções de entrega nos últimos tempos, a Embraer decidiu ser mais conservadora para 2006. Para o analista Rodrigo Goes, do UBS, a empresa deixou espaço para surpresas positivas no futuro. De qualquer forma, ele mesmo não espera algo muito melhor. Goes projetava 180 entregas para 2006 e agora acredita em 150. Ele baixou o preço alvo do ADR em 12 meses de US$ 29,50 para US$ 28. O outro dado que decepcionou os analistas foi o corte radical nas projeções de entregas em dez anos para os jatos de até 60 lugares, no qual se encaixa o ERJ 145. "A empresa simplesmente cortou pela metade a projeção feita há apenas um ano; e a aviação regional só cresceu nos Estados Unidos e na Europa", diz Carlos Albano, da área de pesquisa do Unibanco, que deve divulgará relatório rebaixando o preço-alvo para a ação. Antes, a Embraer estimava que nos próximos dez anos a venda de jatos de até 60 lugares totalizaria 1.150 unidades. Agora, ela enxerga mercado para apenas 650. Uma das explicações oferecidas aos analistas é que o surgimento da sua nova família de 70 a 120 lugares está canibalizando o mercado dos aviões menores. Todo mundo sabe que o potencial para essa família é enorme. Afinal, preenche um vazio que existia antes entre os aviões de 50 lugares e os de 120. Mas o raciocínio dos executivos da companhia não fecha. A própria Embraer não reviu para cima os números para os jatos regionais maiores. Com isso, a estimativa de entregas totais caiu de 3.700 para 3.200. Foto: Pio Figueroa/Valor

Montagem de aviões na Embraer, em São José dos Campos: entregas devem ficar estagnadas em 145 jatos até 2006 Ao mesmo tempo, a empresa disse que não espera reduzir as entregas do ERJ 145 no período. O analista do Banif fez contas e considera isso improvável. "Se a empresa mantiver a entrega estimada por mim de 500 jatos de 50 lugares no período, sua participação de mercado no segmento sai de 43% para quase 80%", diz Telles Filho. Goes, do UBS, reduziu em 17% a sua projeção de receita para a Embraer em 2006, para US$ 4 bilhões. O adiamento pelo governo da licitação para a compra de caças para a Força Aérea Brasileira, no valor de US$ 700 milhões, não teve impacto na decisão dos analistas. "Achei até bom, porque, se a Embraer ganhasse, a maior parte da receita iria para a Dassault. Se perdesse, sua imagem ficaria muito prejudicada", diz Telles Filho. Goes, do UBS, acredita que o segmento de defesa se tornará cada vez mais relevante no mix de receitas da Embraer. Mas os analistas apostam em dois outros projetos para tanto. Um é a fabricação do chamado ACS, o avião de reconhecimento, que a empresa fornecerá aos EUA em parceria com a Lockheed Martin. O outro é o ALX, de ataque leve, que a empresa começou a entregar à FAB este ano. Ambos os produtos teriam potencial para conquistar novos clientes.