Título: Para empresários, Lula é o avalista da política econômica
Autor: Cristiano Romero e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Política, p. A9

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ainda é visto com bons olhos por boa parte do empresariado, mas não é mais considerado imprescindível para a manutenção da estabilidade. A análise dos empresários é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o avalista da atual política econômica, que não sofreria mudanças numa eventual saída de Palocci. Essa foi a visão predominante colhida pelo Valor na sexta-feira, na posse do novo conselho da Câmara Americana de Comércio, evento que teve a participação do ministro. "A economia está sem dúvida mais descolada da política, e isso é muito saudável", afirmou Geraldo Barbosa, presidente da Becton Dickinson (BD) Indústrias Cirúrgicas, acrescentando considerar melhor que Palocci fique. Mesmo assim, ele acredita que o governo tem bons quadros para dar "continuidade ao trabalho" A avaliação de que a política econômica conta com o respaldo de Lula deixa os empresários mais tranqüilos. "Parece que as ações que estão sendo desenvolvidas pelo governo são maiores que um ministério em si", resumiu o presidente do Conselho da Câmara Americana de Comércio, Hélio Magalhães, presidente da American Express Para o presidente da BDO/Trevisan, Antoninho Marmo Trevisan, "Lula sempre foi o fiador da política econômica. Quem garante mesmo a política econômica de um país é o presidente. O ministro da Fazenda é um gestor. Sem apoio do presidente, não opera."Isso não quer dizer que ele - como outros empresários - achem que Palocci não tem importância. "Ele é um avalista desse processo, e granjeou uma respeitabilidade incontestável principalmente fora do Brasil, pela maneira segura de conduzir a política". Trevisan observa ainda que é muito mais fácil ser ministro da Fazenda hoje do que no começo do governo, quando havia grande desconfiança em relação a Lula. Após mais de três anos de mandato, a opção por uma política ortodoxa parece firme. Isso explicaria a reação tranqüila do mercado à queda de Palocci. "Acho que aparentemente ninguém está muito preocupado, como os mercados mostraram nos últimos dias", notou o presidente da Fosfértil e ex-presidente do BC, Francisco Gros.. Para o vice-presidente da Sherwin Williams do Brasil, Mark Hide Pitt, o Brasil amadureceu nos últimos anos. "Com a redução do endividamento e um pouco mais de rigor nas contas públicas, a situação política começar a a se distanciar da economia", disse. "Mas não me recordo de um ano eleitoral no Brasil em que nós não tenhamos tido um pouco de tumulto econômico". Para Pitt, "a permanência ou não de Palocci no governo não é indiferente: "Quando sai uma figura como o ministro da Fazenda, podem ocorrer alguns soluços temporários." Ele não teme, porém, que uma eventual substituição leve a uma mudança na política econômica, como aumentos significativos dos gastos, por exemplo. Trevisan concorda com Pitt, acreditando que essa chance é quase zero.. "Há o orçamento, a lei de responsabilidade fiscal. Essa possibilidade é praticamente nula". Após seu discurso - no qual disse que a economia está no céu, enquanto ele está mais para o lado do inferno -, Palocci foi aplaudido de pé por parte dos presentes. Mas muitos ficaram sentados - talvez mais um sinal de que não é mais visto como indispensável.