Título: Na iminência de sair, Palocci pode ser substituído por Mercadante ou Mantega
Autor: Cristiano Romero e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Política, p. A9

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, está praticamente fora do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão já foi tomada e, a qualquer momento, será formalizada. Lula conversou ontem com Palocci, em Brasília, e convocou para hoje, às 14 horas, uma reunião do gabinete de crise (o grupo de coordenação política ampliado), no Palácio do Planalto, para tratar somente desta questão. Assessores mais próximos ao presidente informam que Lula está abatido com o desfecho que se avizinha quanto ao destino de seu amigo e comandante da economia. Até a última terça-feira, o presidente ainda resistia a entregar Palocci, uma mudança que, acreditavam e ainda crêem Lula e seus principais ministros, complicará muito a reeleição. Mas teria sido impossível manter-se neste caminho depois da quebra de sigilo bancário de Francenildo Costa na Caixa Econômica Federal. O caseiro disse ter visto o ministro várias vezes na casa de lobby em que trabalhava, alugada pelo grupo de ex-assessores de Palocci quando era prefeito de Ribeirão Preto. O ministro sempre negou ter estado nesta casa. No PT próximo a Lula, a lista de substitutos mais prováveis tinha, ontem à noite, apenas dois nomes: o do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e o do presidente do BNDES, Guido Mantega. Mantega tem encontrado Lula semanalmente, mas, segundo seus assessores, isso seria parte da agenda de rotina do presidente do BNDES. Mantega deve estar em Brasília amanhã. Segundo apurou o Valor junto a fonte ligada ao banco de fomento, Mantega estaria disponível para um chamado do presidente numa eventual necessidade de substituição do ministro Antonio Palocci. No BNDES, a avaliação é que o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, não tem o aval de Lula e Mercadante ainda não equacionou sua desistência da disputa paulista. Lula tratou da crise ao longo de todo o fim de semana. Ele tem compromissos internacionais hoje de manhã, em Curitiba, e para lá seguiria direto de São Paulo, onde passou o sábado. Entretanto, mudou de idéia e voltou a Brasília no domingo. Conversou com Palocci, que ficou o fim de semana na capital. À noite, o presidente embarcou para Curitiba, devendo retornar ao Palácio do Planalto às 13 horas de hoje. Ele participará de reunião de coordenação política, às 14 horas, e tem encontros agendados com os ministros Luiz Marinho, Dilma Rousseff e o senador Aloizio Mercadante. A reunião de coordenação terá hoje a presença do chamado gabinete de crise, a que comparecem sempre os ministros Ciro Gomes (Integração), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Jaques Wagner (Coordenação Política), Dilma Rousseff (Casa Civil), além do próprio Palocci. A Polícia Federal já deu ao governo quatro nomes dos envolvidos na violação do sigilo bancário: três homens e uma mulher. Por causa da quebra de sigilo, e da forma lenta e confusa como conduziu as investigações, o presidente da CEF, Jorge Mattoso, também deve deixar o governo. Mattoso, segundo informaram ontem fontes do governo, deporá hoje no inquérito da PF. Lula, conforme seus interlocutores, não gostou nem um pouco da lentidão da CEF nesta apuração, que teria passado a impressão que o governo procurava armar uma versão palatável à opinião pública. Na reunião do gabinete de crise hoje ainda haverá quem esteja disposto a defender que há condições para que o ministro fique no cargo. Mas sem muita esperança de sucesso. Outro integrante da coordenação acredita que haverá, no máximo, possibilidade de defender que Palocci fique até quinta ou sexta-feira, só pedindo demissão junto com os demais ministros que irão se desincompatibilizar para as eleições. " Se o mercado está em crise há 3 anos, e Palocci está na berlinda há 60 dias, não há necessidade de sair correndo do governo nas próximas horas " .