Título: Mercosul está débil, diz uruguaio
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Internacional, p. A11

A ausência do Brasil no contencioso que travam Uruguai e Argentina em torno da instalação de duas fábricas de celulose em território uruguaio é a expressão da fragilidade do Mercosul. "A não intervenção do Brasil é uma mostra da debilidade do bloco como sistema", diz o senador Júlio María Sanguinetti, único presidente do Uruguai eleito pelo voto direto para dois mandatos (85-90 e 95-2000). Sanguinetti diz que, na prática, o Brasil não tem no Mercosul uma atuação proporcional à sua condição de liderança. "O tempo todo os governos do Mercosul diz que o bloco é uma prioridade, mas os fatos mostram que não é assim, que os interesses nacionais se sobrepõem às supostas afinidades ideológicas, se é que elas existem." Em entrevista por telefone desde seu escritório, em Montevidéu, Sanguinetti previu que as fábricas de celulose na margem do rio Uruguai serão construídas pois não se trata de uma obra binacional. "São projetos nacionais." A unidade cujas obras estão mais avançadas é a da finlandesa Botnia. O outro empreendimento é o da espanhola Ence. O investimento estimado nos projetos é de US$ 1,8 bilhão. Os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, se encontram nesta semana para iniciar o diálogo buscando solução diplomática para o conflito. Para Sanguinetti, esse é um tema que envolve todos os sócios do Mercosul, pois é notório que estão sendo violadas normas essenciais do bloco, como a livre circulação de mercadorias. "O Mercosul podia e tinha que intervir no conflito como organização, mas não o fez", criticou Sanguinetti. Ele fez coro com o ministro da Economia, Danilo Astori, que recentemente afirmou que o Mercosul está morto. "A situação está crítica porque só demos passos atrás: na livre circulação de mercadorias, na harmonização da Tarifa Externa Comum, na busca comum de investimentos e na coordenação macroeconômica", disse. Ele também classificou como um erro a incorporação ao bloco da Venezuela, um sócio polêmico que tende a dificultar ainda mais as coisas: "É como um casamento que vai mal e se decide salvá-lo com um novo filho".