Título: Elétricas propõem distribuir 95% do lucro de 2005 aos acionistas
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Empresas &, p. B1

Energia Valor oferecido pelas companhias soma R$ 6,9 bilhões, quantia recorde no setor

Na tentativa de recuperar vários anos de perdas, principalmente durante o apagão, empresas do setor elétrico, ao fim da safra de balanços do ano passado, estão propondo pagar dividendos recordes aos seus acionistas. As propostas abrangem remunerações com valores que alcançam 95% do lucro líquido apurado no ano, segundo análise dos balanços de 18 companhias realizado pela consultoria Economática. Essas companhias lucraram juntas, no ano passado, R$ 7,3 bilhões. O montante de dividendos que estão propondo pagar relativos ao exercício de 2005 alcançam R$ 6,9 bilhões. Com isso, o setor elétrico é disparado o campeão em pagamento de dividendos aos acionistas, comparado a outros, segundo o levantamento feito pela Economática. "Há uma disposição clara de recuperação das perdas do passado", diz o presidente da consultoria, Fernando Excel. O segundo lugar no ranking, o de minerais não metálicos, que possui apenas duas empresas na pesquisa. Uma delas, a Eternit, é tradicional boa pagadora de dividendos. A fabricante de produtos de amianto propõe distribuir 63% dos lucros na forma de dividendos, informa Exel. A área de siderurgia, composta por 13 empresas, na média porpõe distribuir 48,7% dos lucros aos acionistas; a de petróleo e gás, 47,5%; telefonia 39,4%; mineração 38,1% e construção civil, 11%. A holding CPFL Energia, maior grupo nacional privado da área elétrica, é um desses exemplos: lucrou R$ 1,02 bilhão em 2005 e propõe pagar R$ 918 milhões - valor que corresponde a 95% dos ganhos. O presidente do grupo, Wilson Ferreira Jr, diz que isso não significa nenhuma redução nos investimentos das empresas do grupo. "A CPFL investe em média R$ 800 milhões por ano". O executivo explica que houve uma boa performance de geração de caixa da empresa, e houve uma captação de recursos com a abertura do capital da holding no fim de 2004. Além da construção de usinas já adquiridas no passado, a CPFL não investiu nos últimos dois anos na aquisição de novos ativos. Há, portanto, uma folga para essa distribuição de dividendos, afirma Ferreira Jr. Para o presidente da elétrica, o momento é favorável para as empresas de energia. Elas estão com suas dívidas reescalonados e contam o mercado de capitais aberto às empresas. "O setor costuma operar com alta alavancagem, com cerca de 50% de terceiros e há empresas com endividamento menor que essa média, o que permite novas captações de recursos no mercado", disse o executivo. A CPFL é candidata à aquisição da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), que está em processo de privatização. Segundo ele, isso não comprometerá a distribuição dos dividendos programada, porque a CPFL já pediu autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para captar até R$ 6 bilhões e fazer frente a novas aquisições. No Caso da CPFL, há ainda outro fator positivo, segundo Ferreira Jr.: a empresa trocou recentemente os indexadores de grande parte de sua dívida, passando a adotar o IGP-M, que teve baixa variação no ano passado. "Estamos com baixo custo da dívida e, por termos os melhores ratings do setor, temos acesso a dinheiro com custo menor e maior prazo". O presidente da Elektro, empresa controlada pela americana Prysma, Orlando González, partilha da mesma opinião: é melhor captar no mercado para investir. A Elektro lucrou R$ 658 milhões em 2005 e propõe a distribuição de R$ 609 milhões em dividendos. É a primeira vez, desde 2001, que a empresa vai pagar dividendos. "Houve um período ruim para o setor e há muito tempo os acionistas não são remunerados". Para o analista do BES Securities, Victor Sousa, depois de um período de vários percalços, com o racionamento de energia e alta do dólar no passado recente, finalmente o setor elétrico voltou à lucratividade. Daí a tendência a propor o pagamento de dividendos de forma mais agressiva agora. "Há uma inclinação para a distribuição de dividendos, sem que isso comprometa os investimentos e a alavancagem". No caso da Cemig, que divulgou proposta de pagar R$ 2,07 bilhões ante um lucro líquido de R$ 2 bilhões no ano passado, há uma negociação excepcional envolvendo o acionista principal companhia, o governo do Estado de Minas e os outros sócios. Esse acordo envolve uma dívida de R$ 3,1 bilhões que Estado tem para com a Cemig . O débito é referente à Conta de Resultados a Compensar (CRC ), mecanismo utilizado no passado para controlar as tarifas. Assim, apesar do alto valor dos dividendos, o Estado ficará sem receber remuneração da Cemig até o ano de 2035, como forma de pagamento dessa dívida. Os recursos serão retidos pela estatal. Pela proposta, o Estado pagará à Cemig 61 parcelas semestrais, com vencimento em 30 de junho e 31 de dezembro de cada ano. Houve, porém uma brecha nesse acordo para que o Estado de Minas Gerais possa receber recursos oriundos dos ganhos da Cemig em 2005: será constituído um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios - FIDC, cujos recursos captados serão distribuídos na forma de dividendos extraordinários. Para pagamento em 2006, foi definido o montante de R$ 897 milhões, dos quais os cofres do estado receberão 22%.