Título: Financiamento de máquinas despenca
Autor: Cibelle Bouças e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Agronegócios, p. B12

Conjuntura Desembolsos do Moderfrota já caíram 58% nesta safra; no caso do Finame, retração supera 95%

A crise de rentabilidade no segmento de grãos, que se aprofunda desde 2004, golpeou as vendas de máquinas agrícolas no país nesta safra (2005/06). E, nesse contexto, mesmo a comercialização com financiamento a juros controlados, por meio do Moderfrota e do Finame, despencou. Conforme dados da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, os desembolsos do Moderfrota nos nove primeiros meses da safra - julho de 2005 a fevereiro último - totalizaram R$ 997,20 milhões. O montante é 57,6% inferior aos recursos liberados em igual período do ciclo 2004/05. Na mesma comparação, os desembolsos do Finame recuaram 95,4%, para R$ 23,63 milhões. Em 2005 (janeiro a dezembro), o desembolso de recursos para máquinas pelo BNDES já havia caído 59% em relação a 2004, para R$ 1,9 bilhão (incluindo as duas linhas de crédito). Conforme informou a assessoria de imprensa do banco, a meta para 2006 é pelo menos repetir o desempenho do ano passado. A tendência preocupa as montadoras, que entre julho e fevereiro registraram retração de 36% nas vendas ao atacado, para 14,4 mil unidades, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Mas a situação é mais grave no varejo. Hari Hein, diretor de tratores da Associação Brasileira dos Distribuidores Agrale (Abrada), afirma que "o mercado está totalmente parado". "Não tenho conhecimento de nenhum produtor que pegou recursos para financiamento de máquinas usadas. E a venda de máquinas novas está parada. Esse ano está pior que o ano passado", afirma Hein. Ele observa que muitos agricultores do país já tiveram suas dívidas de financiamento de safras anteriores prorrogadas e agora esperam um novo pacote de ajuda do governo para voltar a comprar máquinas. Para Hein, as empresas de máquinas também está aguardando as medidas de apoio que o governo federal deve anunciar esta semana para replanejar suas estratégias de vendas. Nelson Merola Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores John Deere (Assodeere), diz que muitos produtores já ameaçam não pagar as parcelas de financiamento que vencem entre maio e junho. "O setor esperava que 2006 tivesse um resultado parecido, mas o cenário está bem pior. As vendas de máquinas estão a metade do que foram em 2005", afirma Júnior. Ele afirma que, no ano passado, já houve diminuição de 50% nas vendas de tratores e de 70% nas de colheitadeiras. No primeiro bimestre deste ano, conforme Júnior, "as vendas de máquinas estão muito fracas" e a entrega de peças para reposição caiu 30% em relação ao mesmo período de 2005. As concessionárias admitem que nem mesmo os programas para financiamento de máquinas usadas, lançados na atual safra pelos bancos de montadoras - AGCO Finance, Banco CNH e Banco John Deere - deslancharam. Uma fonte ligada às indústrias de máquinas disse que representantes do segmento reúnem-se esta semana com o Ministério da Agricultura para avaliar a possibilidade de também serem criadas medidas de apoio para a área. José Luis Coelho, gerente divisional de vendas da John Deere, diz que, excetuando a boa demanda pelos segmentos de cana-de-açúcar, laranja e café, o cenário para as máquinas é negativo em 2006. "As indústrias de máquinas viveram uma lua-de-mel com o setor de grãos entre 2000 e 2004. Hoje, a perspectiva está muito longe do vivemos nos bons tempos do setor", afirma. Até o início de fevereiro, a Anfavea previa para este ano uma expansão de 16% nas vendas de máquinas no mercado interno, para 27 mil unidades, mas este número deve ser revisto.