Título: Fundos partem para o controle
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 27/03/2006, Finanças, p. C1

Private Equity Acordos de acionistas não satisfazem mais o investidor financeiro

Os investidores financeiros dos fundos de private equity têm demonstrado interesse crescente em adquirir uma participação majoritária no capital de empresas no Brasil, ao invés de se restringir a fatias minoritárias como faziam antes. Para isso, vêm pagando preços cada vez mais competitivos em relação aos investidores estratégicos - aqueles que atuam no setor e buscam comprar a outra empresa por razões de escala ou para ganhar mercado -, conta Alberto Ortenblad Filho, sócio-diretor da Brasilpar, especializada em assessoria financeira para fusões e aquisições de empresas médias. A principal razão: hoje, é possível a este investidor encontrar saída para seu investimento no mercado de capitais brasileiro. Se quiser vender sua participação na empresa, muito possivelmente deve encontrar comprador na Bolsa de Valores de São Paulo. "Os fundos de private equity estão se arriscando mais, pois o risco de liquidez do mercado é menor", diz Bruno Constantino, sócio-responsável pela área de investimento de longo prazo do Banco Pactual, que administra um fundo com R$ 740 milhões disponíveis para investimentos em geração e transmissão de energia, o FIP Brasil Energia. No mercado internacional, a tendência é antiga. Já em 89 o fundo Kohlberg Kravis Roberts (KKR) realizou o que, na época, foi a maior aquisição da história, pagando US$ 31 bilhões pela Nabisco. Desde então, o movimento veio em um crescente. "Os fundos são tradicionalmente mais agressivos do que o investidor estratégico, pois geralmente podem pagar mais", afirma Patrice Etlin, sócio-diretor no Brasil da Advent Internacional, com US$ 900 milhões destinados à América Latina, dos quais US$ 375 milhões ainda não investidos. No Brasil, a realidade vinha sendo outra. Depois de amargar fortes perdas, principalmente em 2002, os fundos preferiam comprar participações menores nas empresas e buscavam controlá-las por meio de acordo de acionistas. Se perdessem, perderiam menos. O acordo de acionistas chegava até a prever, em não poucos casos, uma forma de saída para o fundo de private equity para reduzir seus riscos. A dificuldade em vender sua participação muitas vezes inviabilizava o negócio, pois o fundo acabava colocando no preço da empresa esse risco de liquidez, diz Constantino. O investidor estratégico, que não busca saída para o investimento, mas sim integrá-lo a seus negócios, conseguia oferecer um preço mais atrativo e levava vantagem. Agora, a situação começa a mudar. "É o início de um movimento que eu acredito vai se ampliar", diz Ortenblad Filho. Luiz Eduardo Costa, outro sócio-diretor da Brasilpar, concorda. "A possibilidade de o Brasil se tornar grau de investimento também traz uma perspectiva imediata de valorização dos ativos brasileiros, inclusive todas as suas empresas, o que estimula ainda mais o investidor financeiro a tomar risco", completa Costa. Segundo eles, a Brasilpar está para finalizar um negócio no qual uma empresa de médio porte será adquirida por um fundo de private equity. Para Etlin, os fundos de private equity no país têm preferido adquirir participações majoritárias nas empresas brasileiras, pois aprenderam que essa é a única forma de efetivamente conseguir interferir na gestão de forma determinante. "No Brasil, é muito difícil garantir os direitos dos acionistas minoritários na Justiça", diz Etlin. Segundo ele, os acordos de acionistas quando não respeitados têm pouco valor jurídico. Segundo ele, ao deter fatias majoritárias das empresas, os fundos conseguem fazer com que elas passem a ser gerenciadas de forma a maximizar o seu valor para o sócio-acionista. Os fundos de private equity no Brasil buscam rentabilidade de 25% ao ano em dólar. Geralmente, demoram de cinco a dez anos para vender sua participação. Mas, às vezes, a saída se dá apenas um ano depois da compra. A rede de supermercados do Nordeste G. Barbosa, por exemplo, contratou o UBS e Merrill Lynch para pulverizar o seu controle acionário na bolsa de valores, apenas um ano depois de ter sido comprada pelo fundo de investimentos em capital de risco Acon Investments, do Texas Pacific Group. Na época, o dono do Pão de Açúcar, Abílio Diniz, chegou a avaliar o negócio, mas considerou o preço pedido pelo grupo holandês Royal Ahold caro demais, estimado em ? 90 milhões pelo mercado. Mais recentemente, o Advent fez polêmica aquisição de 100% da Brasif, que detém a concessão para operar as lojas de duty free nos aeroportos brasileiros, por US$ 250 milhões. O mesmo Advent comprou, em abril de 2004, o controle da seguradora J. Malucelli. Os valores não foram revelados, mas investidores informaram que a operação movimentou entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões. O setor de agronegócios, em especial açúcar e álcool, tem atraído especial atenção. A empresa de investimentos americana Kidd & Company negocia a compra da usina Coopernavi (Cooperativa dos Produtores de Cana-de-Açúcar de Naviraí), no Mato Grosso do Sul, por cerca de R$ 240 milhões. Um fundo de investimentos inglês, o Evergreen, tenta a aquisição da usina Alcana, na cidade de Nanuque, em Minas Gerais. Até esse movimento recente, fora negócios de muito pequeno porte, a compra do controle de empresas brasileiras por, por exemplo, US$ 280 milhões ficava restrita a poucos fundos brasileiros mais audazes de private equity, como o GP (Garantia Partners) na aquisição da Brahma, em 89. Já aquisições do controle de empresa de maior valor, no entanto, continuam não acontecendo no Brasil. "Não é fácil comprar uma grande empresa brasileira, visto que o controle não é pulverizado", diz Corrado Varoli, responsável pelas operações da Goldman Sachs na América Latina.