Título: Furlan teme efeitos da baixa do dólar
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2004, Finanças, p. C3

Câmbio Para o ministro, importações vinham sendo estimuladas e balança comercial poderia ser comprometida

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que a tendência de baixa do dólar estava estimulando as importações e poderia comprometer o saldo comercial e o emprego no médio prazo. Furlan classificou como "notícias alentadoras" as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à TV Bloomberg de que o dólar deveria permanecer entre R$ 2,90 e R$ 3,10 e a decisão do Tesouro Nacional de comprar dólares para recompor reservas. "Uma tendência de baixa do dólar certamente estimularia importações, inclusive de bens de consumo, que, nesse caso, teria um impacto de redução do emprego, como já aconteceu em ocasiões anteriores em que o dólar esteve muito atraente", disse o ministro, que participou ontem, em São Paulo, do encerramento do 24º Encontro Nacional de Exportadores (Enaex). "É uma decisão acertada do Banco Central e não é uma intervenção no mercado de câmbio", continuou Furlan. "Se o Brasil tem compromissos a pagar nos próximos meses, é natural que se aproveite o momento de excesso de oferta de dólares. Ninguém gosta de comprar quando está caro. É uma atitude do BC que vai dar resultado para o Tesouro." Segundo o ministro, o câmbio estava estimulando as importações, que chegaram a superar pontualmente as exportações durante cinco dias no último mês. "É interessante notar que já apareceu saldo negativo na balança", disse Furlan, acrescentando que isso ainda não havia ocorrido no governo Lula. Os exportadores também comemoraram as declarações de Lula e a compra de dólares do Tesouro. Os empresários consideram R$ 3,00 como um patamar de "equilíbrio" para o dólar. Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a decisão do BC é acertada porque ajudar a recompor reservas e estimula as exportações. "O dólar barato poderia gerar desaquecimento da economia e desemprego", afirmou. Para Castro, o patamar do câmbio é fundamental para manter médias e pequenas empresas na exportação, já que essas companhias possuem custo financeiro mais alto e produtividade menor. "Se o Brasil voltar a praticar uma política de real sobrevalorizado e juros altos, nós jogaremos por terra todos os bons resultados conquistados até aqui", afirmou o presidente da Coteminas, Josué Christiano Gomes da Silva. Para o presidente da Usina Moeda, Maurílio Biaggi Filho, o atual patamar de câmbio é muito mais "cruel" e prejudica mais a economia do que o aumento da taxa de juros. Segundo Biaggi, é consenso que um dólar em torno de R$ 3,00 é ideal para o país. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também concorda que esse patamar de câmbio é o ideal. "O dólar está muito baixo e prejudica as exportações", reforçou. Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Óleos Vegetais, também ressaltou que o câmbio, o aumento de custo e a queda do preço das commodities estão prejudicando os exportadores.