Título: Para Rigotto, permanência na base seria uma 'desgraça'
Autor: Cristiano Romero, Maria Lúcia Delgado e Taciana Co
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Política, p. A-6

Defensor da tese de que o PMDB deveria ter ficado de fora do governo federal desde o início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, afirma que uma eventual vitória dos pemedebistas que pregam a permanência na base governista na convenção de 12 de dezembro seria uma "desgraça" para o partido. Na opinião dele, uma decisão nesta linha tornará "nebuloso" o futuro da sigla, que terá dificuldades para se livrar dos rótulos de "clientelista e fisiologista". Rigotto admite que o "jogo está sendo muito pesado". Além da oferta de mais espaço para o PMDB no governo federal, feita pelo presidente Lula, ele está do lado oposto de caciques como o senador José Sarney (AP), dos já ministros Amir Lando (Previdência) e Eunício Oliveira (Comunicações) e de parte significativa da bancada federal, incluindo o líder do partido na Câmara, José Borba (PR). Há ainda "Estados do Nordeste que estão fechados a favor da manutenção do apoio ao governo". Pemedebista histórico, filiado desde 1975, ainda à época do MDB, Rigotto acredita que o partido está numa "encruzilhada". Se permanecer no governo, vai "influir negativamente" já nas próximas candidaturas pemedebistas aos governos estaduais, ao Senado, à Câmara e às Assembléias Legislativas, afirma. "Se (os governistas) não entenderem isto, não tenho dúvidas que o resultado vai aparecer no enfraquecimento do partido nas eleições de 2006". Para o seu lado da trincheira Rigotto conta com os demais cinco governadores do partido: Luiz Henrique da Silveira (SC), Roberto Requião (PR), Rosinha Matheus (RJ), Joaquim Roriz (DF) e Jarbas Vasconcelos (PE), além de diretórios estaduais como Goiás, Rio e Tocantins. Segundo ele, apesar das declarações do colega catarinense de que "aceitaria que o PMDB permanecesse ligado ao governo", deve prevalecer a posição do diretório local a favor da entrega dos cargos. Para Rigotto, a discussão sobre mais ou menos espaço dentro do governo federal é menor diante da descaracterização e da perda de identidade do partido nos últimos anos. "Os erros foram se sucedendo, começaram antes dos últimos oito anos porque o PMDB foi se agregando a projetos que não são os seus e ficou sem bandeira nenhuma". O resultado, entende, é que embora seja um partido com força nacional, o PMDB já não é respeitado e é visto nas projeções para 2006 como um "satélite" do PT ou do PSDB. "E não há respeito porque o partido não se faz respeitar, porque ao longo desses anos tem-se preocupado com essa história de cargos, com uma cúpula que não discute com a base e fica cada um preocupado em resolver seus problemas e garantir seus espaços e favores do governo". Para Rigotto, a permanência do PMDB na base governista é ruim para o próprio governo e para o PT, que se desgastam porque terminam fazendo "aquilo que condenavam em outros partidos e outros governos". De qualquer forma, admite que se a posição dele for vitoriosa na convenção, o PMDB poderá perder quadros que acreditam se beneficiar da situação atual. Ele não citou nomes. Na hipótese de vitória dos governistas, ele entende que a ocorrência de defecções será mais difícil. Ele próprio garante que não sai porque continuará empenhado na reconstrução da história do PMDB e porque em cinco ou seis meses vai ficar "muito claro que estávamos certos". Mesmo que o governo dê mais um ministério ao partido, logo aparecerão aqueles que "acham que é pouco ou que em vez deste (ministério) teria que ser outro mais forte; isto não leva a nada", afirma. Mas, mesmo saindo vencedor na disputa do dia 12, Rigotto quer o PMDB num papel de oposição construtiva, apoiando os bons projetos do governo. Como ponto central a ser combatido pelo PMDB na oposição, o governador gaúcho aponta o "enfraquecimento da federação, que vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso". O assunto tem rendido freqüentes embates entre ele e a equipe econômica, principalmente devido à redução das compensações aos Estados pela desoneração nas exportações. Segundo Rigotto, no ano passado o governo federal limitou-se a destinar R$ 4,3 bilhões para o fundo da Lei Kandir. Em 2005, quando a necessidade para repor minimamente as perdas dos Estados é de R$ 9,1 bilhões, surpreendentemente o governo "esquece" de colocar os recursos na proposta orçamentária. Se a situação persistir, afirma, em algum momento os Estados não terão como pagar os créditos tributários acumulados pelas indústrias na compra de insumos e matérias-primas para a produção de bens exportáveis. "Estamos alertando as entidades empresariais para que nos ajudem nesta pressão", revela.