Título: Roseana no governo divide PMDB e aliados de Sarney
Autor: Cristiano Romero, Maria Lúcia Delgado e Taciana Co
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Política, p. A-6

O governo ainda não encontrou uma fórmula para pacificar a relação entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o líder da sigla na Casa, Renan Calheiros (AL). O primeiro ainda resiste a apoiar a candidatura de Renan à sua sucessão. E resolver o problema com a possível nomeação da senadora Roseana Sarney para um ministério, desde que ela trocasse o PFL pelo PMDB, esbarra em um impasse: nem o grupo sarneyzista, nem o PMDB governista, se entusiasmam com a hipótese. A própria Roseana prefere ser ministra sem sair do PFL. No máximo, admite licenciar-se do partido. Entre os aliados de Sarney, um ministério para Roseana seria bem vindo. De acordo com dois interlocutores do senador, seria uma compensação adequada pela perda da presidência do Senado e posicionaria Roseana para disputar a vaga de vice na chapa de Lula em 2006. Mas, em um primeiro momento, a idéia seria a senadora permanecer onde está: no PFL. O entendimento é que o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), não iria se mobilizar para expulsar a senadora nesta hipótese. Afinal, Roseana já se comporta como governista estando filiada à sigla, sem que sofra nenhuma sanção. A migração de Roseana para o PMDB agora provocaria resistências no partido que poderiam aprofundar a crise interna. A começar dos próprios governistas, que não aceitariam que a ampliação de espaço pemedebista representasse um fortalecimento apenas para Sarney, que estaria representado no primeiro escalão, e Calheiros, que removeria seu principal obstáculo para a presidência do Senado. Falta ainda confiança mútua para que esta solução seja tratada entre os pemedebistas e o Planalto. Renan Calheiros continua apostando que Sarney buscará ressuscitar a emenda de reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado assim que tiver uma oportunidade. Com Roseana permanecendo no PFL, é a vez de o governo não se entusiasmar. A presença da senadora na equipe ministerial só faria sentido se ajudasse aos governistas a se fortalecerem no PMDB. Caso a senadora não mude de partido, o Palácio do Planalto deverá procurar outra fórmula de compensar Sarney. Caso os governistas ganhem a convenção de 12 de dezembro, um cenário cogitado entre os articuladores dos interesses do governo é trabalhar para que Sarney possa se tornar presidente do PMDB, com a destituição de Michel Temer do comando da sigla. A presença de Sarney na presidência da sigla já foi cogitada no passada e no governo há quem veja esta hipótese como viável, desde que Calheiros se torne seu sucessor no Senado. Para isto se concretizar, a derrota de Temer na convenção teria que ser marcante. E o problema é que a vitória governista no dia 12 ainda é um cenário improvável. Os dirigentes governistas continuam trabalhando para tentar adiar o encontro, outra possibilidade que se torna mais remota a cada dia. A partir de hoje, Renan Calheiros e José Borba já começam a coletar assinaturas dos senadores e deputados para um manifesto a favor do adiamento da convenção. Caso não consigam um volume de adesões expressivo, tentarão esvaziar o encontro. Na avaliação dos próprios governistas, a posição pelo rompimento do partido com o governo ganharia, por pouco, já que os oposicionistas se concentram nos Estados mais numerosos. Um resultado imprevisível e um clima de conflito pode levar os convencionais pemedebistas que transitam de uma posição para a outra a desistirem de comparecer ao encontro.