Título: Lula quer reforma pronta antes da convenção
Autor: Cristiano Romero, Maria Lúcia Delgado e Taciana Co
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Política, p. A-6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fechar um acordo com o PMDB antes mesmo da convenção nacional do partido, marcada para o dia 12 de dezembro, e, assim, concluir a reforma de seu ministério nas próximas duas semanas. Nos dias 10 e 11, Lula promoverá reunião ministerial de dois dias, em Brasília, para fazer uma ampla avaliação do governo e traçar os planos para o restante do mandato. Pretende fazê-lo, se possível, já com a nova composição. Entretanto, se não for viável definir as relações com o PMDB antes da convenção, o presidente deverá aproveitar o encontro para mais uma avaliação de desempenho. O Palácio do Planalto já encomendou a todos os ministérios um relatório de tudo o que foi feito em suas áreas desde janeiro de 2003. "Lula quer sacudir a esplanada", disse um ministro. Políticos mais próximos de Lula confirmam que, em algumas conversas reservadas, já houve sinalização de que um eventual convite para que a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) integre o primeiro escalão é uma alternativa viável, que agrada ao presidente. "É um nome que tem chance, mas se isso vier a ocorrer, não será pela via do PMDB", disse um parlamentar. Na bancada do PP, já está praticamente definido que o atual líder do partido, Pedro Henry (MT), será indicado para ocupar o ministério que Lula oferecer à legenda. Nome constante em todas as listas de demissíveis, o ministro das Cidades, Olívio Dutra, antecipou-se à reunião ministerial e distribuiu ontem, por meio de sua assessoria, um relatório de todas as ações nos últimos 20 meses. O total de investimento no Ministério das Cidades em 2004, segundo o relatório, é de R$ 13 bilhões. Há ainda a promessa de que finalmente, nos últimos dois meses do ano, será enviados ao Congresso o projeto de lei que definirá a Política Nacional de Saneamento Ambiental, incluindo o emperrado marco regulatório. Sem demonstrar nenhuma vontade de deixar o posto, Olívio Dutra anuncia ações para 2005. Promete enviar no próximo ano o projeto de lei que trata da Política Nacional de Habitação. O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, outro que está entre os pior avaliados no governo e compõe a lista dos demissíveis, disse ontem que, com as demissões ocorridas no seu ministério, inclusive a de Ana Fonseca, a secretária executiva responsável pela unificação e execução dos programas de renda mínima, está "acertando a equipe". "Qualquer pessoa que conheça administração pública sabe que essas mudanças são normais. Foi assim, por exemplo, quando eu fui prefeito de Belo Horizonte. Refletem acertos do time e refletem também vontade das pessoas", afirmou o ministro, em entrevista no Palácio do Planalto. "Nós estamos tranqüilamente operando as modificações necessárias, na perspectiva de potencializar uma equipe vencedora", declarou o ministro que figura entre os condenados a sair, embora não se saiba quando. Na avaliação de Patrus Ananias, depois de nove meses de funcionamento, o ministério apresenta "bons frutos". "Seguramente a melhor colheita social da história do Brasil", afirmou. "Nós somos um time que está ganhando, fazendo gols na área social e os dados e os números que estão à disposição de vocês comprovam isto", disse à imprensa. Depois da saída de Ana Fonseca, que deixou o cargo por divergências na condução das políticas sociais, Patrus Ananias aceitou dois novos pedidos de demissão. Até o dia 30, deixarão o ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome o secretário Nacional de Renda de Cidadania, André Teixeira, e o diretor do Cadastro Único, Cláudio Roquete - os dois ajudavam a coordenar o Bolsa Família. O presidente Lula pretende negociar as grandes mudanças do governo, acertar-se com o PMDB, levar o PP a integrar-se ao primeiro escalão, para em seguida cuidar das funções que já estão vagas há mais tempo. Por isso não foram definidos ainda os nomes do ministro do Planejamento, que irá substituir Guido Mantega, e do presidente do Banco do Brasil. Nos últimos dias, surgiram dificuldades para um possível deslocamento do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, para o Ministério do Planejamento, como foi cogitado. É que a função inclui a substituição do ministro da Fazenda na presidência do Conselho Monetário Nacional (CMN), e isso exige formação superior, assim como - assim como a de presidente do Banco do Brasil. O nome do momento, cogitado para o Planejamento, é o do economista Luciano Coutinho.