Título: Para FHC, falta objetivo à política de alianças do PT
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Política, p. A-6

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez críticas ontem à forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conduz a articulação política com o PMDB e acusou o governo de não ter objetivos. Durante a gestão de FHC, petistas acusavam o tucano de cooptar o PMDB. Hoje, as críticas se inverteram. "(Lula) tem que rever o passado. O Executivo não pode governar sem ter maioria, mas a questão é: ter maioria para quê? Tem que ter maioria e propósitos claros. Vejo esforço para ter maioria, mas não vejo claramente para quê". O presidente nacional do PT, José Genoino afirmou, em nota, que a política de fazer alianças amplas "marcou a trajetória do PT nos últimos cinco anos" e disse que as críticas são por FHC ser da oposição. Durante entrevista concedida na sede da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), FHC criticou também o PT por ter desgastado a imagem de Lula ao federalizar a disputa municipal. "O PT fez questão de federalizar e levou o presidente a se expor desnecessariamente". Genoino rebateu, afirmando que a participação foi "equilibrada" e sem "constrangimento" e que FHC deveria " ter humildade" e olhar o passado. O presidente de honra do PSDB disse que não será candidato em 2006, mas indicou o prefeito eleito de São Paulo, José Serra, o senador Tarso Jereissati, além dos governadores Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Em seguida, afirmou que "o PSDB é o único partido com pessoas qualificadas para disputar em 2006". Para Genoino, a atitude é "arrogante". FHC criticou a gestão de Lula por falta de "criatividade, sobretudo na área social" e também no "gerenciamento" e cobrou do governo uma posição mais ofensiva na política econômica externa. Já Genoino disse que os projetos do PT "são mais amplos que os existentes no governo dele", garantiu que as falhas de gerenciamento será corrigidas e que "os êxitos do governo Lula na área econômica incomodam os brios de FHC". O ex-presidente defendeu as PPPs e disse que o governo precisa do capital privado para investimentos. "O governo, pela crise fiscal, precisa do dinheiro privado. Não é questão ideológica, é um fato". O tucano defendeu as agências regulatórias para que o capital externo tenha garantias ao fazer investimentos no país. "Para ter o dinheiro privado e garantir o interesse público, tem que ter as agências regulatórias. Sem elas, ninguém vai colocar dinheiro, porque o ministro pode mudar as regras do jogo a qualquer hora". FHC disse que em sua gestão, cerca de 500 mil famílias foram assentadas e desapropriados 20 milhões de hectares de terra. Disse que "foi feito muito, embora os petistas neguem". "Na medida em que o Ministério da Reforma Agrária às vezes parece dar força ao reivindicacionismo incessante, isso complica a possibilidade de consolidar o que já foi feito". Nos últimos dias de seu governo, FHC assinou um decreto postergando em 20 anos a abertura dos arquivos do período da ditadura militar. O ex-presidente desconversou sobre sua responsabilidade e afirmou que cabe a Lula revogar o decreto. "Ele pode mudar. É um decreto, muda na hora que quiser. Assinei o decreto sem medir as conseqüências. Não fui alertado suficientemente no que diz respeito a ele ser eternizado".