Título: Revisão do PIB dos EUA elimina recessão de 2001
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Internacional, p. A-9

A última revisão de metodologia de cálculo do PIB dos Estados Unidos mudou a trajetória da até agora conhecida como recessão de 2001, causada pela explosão da bolha da internet nas bolsas de valores. Depois da revisão, não há mais três trimestres seguidos de redução do PIB. "A desaceleração em 2001 e a subseqüente recuperação são mais suaves do que o anteriormente estimado", diz o Birô de Análise Econômica (BEA, na sigla em inglês) no texto da revisão. Pela metodologia anterior, o PIB real chegou ao pico no último trimestre de 2000 e caiu nos primeiros três trimestres de 2001. Depois da revisão, houve queda no primeiro trimestre, mas crescimento no segundo, e novamente queda no terceiro trimestre do ano. Ou seja, pela definição clássica de recessão, de dois trimestres consecutivos de redução do PIB, isso não ocorreu nos EUA em 2001. A revisão conclui que nestes três trimestres, a redução do PIB dos EUA em termos anuais foi de 0,2%, bem abaixo do 0,7% antes estimado.

O resultado final do ano de 2001, segundo a nova metodologia, foi de crescimento econômico de 0,8%, acima do 0,5% anteriormente divulgado. Em 2002, a expansão econômica foi de 1,9% e não 2,2% como se calculava até então, e em 2003 o crescimento do PIB foi reduzido de 3,1% para 3%. A metodologia de cálculo do PIB nos EUA é revista anualmente, e passa a cada 4 ou 5 anos por uma "revisão abrangente" - a última foi em 2003. As revisões costumam incorporar novas fontes de dados anteriormente não disponíveis. Segundo o BEA, a maior contribuição para a revisão para cima do PIB em 2001 veio dos gastos públicos, do governo federal e dos governos dos estados. Em 2002, o ritmo da recuperação econômica foi reduzido por menores investimentos que o previsto em equipamentos e software por empresas, e menores gastos pessoais com serviços e bens não duráveis. A redução só não foi maior, novamente, por maiores gastos do Estado e de governos locais. Os dados mostram, portanto, que a tendência de aumento de gastos públicos já vinha ocorrendo desde o início do governo Bush, em níveis maiores do que se imaginava. A diferença chegou a US$ 10,9 bilhões em 2001, US$ 25 bilhões em 2002 e US$ 20,7 bilhões em 2003. A maior alta de gastos públicos no período foi feita por governos estaduais. O novo método foi aplicado à série de PIB coletada desde 1929. A maior mudança ocorreu no ano de 1999, com alta de 0,4 ponto percentual no crescimento do PIB. Ajustes para cima de 0,3 ponto percentual ocorreram nos anos de 1985, 1991 e 1992. A última revisão reduz a discrepância estatística que era observada até então entre os números do PIB (Produto Interno Bruto) e da Renda Interna Bruta (Gross Domestic Income, GDI). Teoricamente os dois números deveriam ser iguais, mas apresentam discrepância por utilizar fontes independentes de dados. O PIB soma despesas finais- gastos de consumidores, investimento privado, exportações líquidas e gastos públicos. A GDI mede as rendas obtidas na produção do PIB. A discrepância entre os dois números diminuiu de 1,1% para 0,9% no ano de 2001, e para o ano passado, aumentou ligeiramente, de 0,1% para 0,2%. Os últimos dados apresentados sobre o PIB americano neste ano mostram um crescimento anualizado de 3,7% no terceiro trimestre, ligeiramente acima dos 3,3% do segundo. O primeiro trimestre teve o maior ritmo de crescimento, 4,5% em termos anualizados. O ano deve terminar com crescimento da economia americana entre 3,5% e 4%, segundo analistas.