Título: Argentina terá de pagar FMI com reservas, após adiar a troca da dívida
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Internacional, p. A-9

O atraso no lançamento da oferta argentina de reestruturação de sua dívida em default deve obrigar o país a usar reservas do Banco Central para realizar pagamentos ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Na melhor das hipóteses, o país terá de desembolsar US$ 800 milhões correspondentes ao primeiro trimestre do ano que vem. Se a retomada do acordo com o FMI demorar mais, o montante total a ser pago no primeiro semestre se aproxima de US$ 1,7 bilhão. Anteontem, o governo argentino anunciou que o lançamento da oferta, antes previsto para a próxima segunda, foi adiado para 17 de janeiro. Pelo cronograma oficial, a possibilidade de aderir à troca de bônus em default por novos bônus estará aberta até 25 de fevereiro, e a entrega dos novos bônus está prevista para 1º de abril, no que seria a saída formal do default. O adiamento foi decidido em consequência da saída do Bank of New York da operação. Na semana passada, o banco, que faria a colocação dos títulos no exterior, comunicou ao governo que devido à complexidade técnica da negociação argentina, o prazo inicialmente previsto não poderia ser cumprido. Além disso, a oferta argentina ainda não obteve o aval dos órgãos reguladores dos Estados Unidos e da Itália. A posição inicial do governo, defendida pelo presidente Néstor Kirchner, foi de levar a operação adiante mesmo sem esse aval externo, lançando-a na segunda-feira no mercado doméstico, com a possibilidade de que os credores de outros países pudessem aderir a ela desde que concordassem em receber papéis sob jurisdição argentina. O governo mudou de idéia depois de ser alertado pelos bancos locais e estrangeiros que o assessoram na operação sobre a possibilidade de ser alvo de processos por parte de credores que se sentissem prejudicados. Um dos exemplos é que o governo estabeleceu uma cota de bônus sem desconto, destinados aos pequenos investidores, que só poderão ser requisitados nas três primeiras semanas depois do início da operação de troca. O governo argentino suspendeu em setembro suas negociações com o FMI sob a justificativa de que necessitava concentrar-se na reestruturação da dívida com os credores privados, em default desde dezembro de 2001. Desde então, com o acordo entre o país e a instituição suspenso, a Argentina vem pagando com reservas os vencimentos não postergáveis, que até o final deste ano devem totalizar US$ 1 bilhão. Ontem, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que o diálogo com o Fundo poderia ser retomado a partir de 17 de janeiro, mas as conversações dificilmente poderão ser levadas a cabo até que esteja claro se a proposta argentina terá ou não adesão suficiente para ser aceita pela instituição multilateral.