Título: Comércio entre sócios perde espaço no Mercosul
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Brasil, p. A2

Os países que compõem o Mercosul estão perdendo o interesse pelo bloco. A fatia das exportações destinadas ao comércio intrazona é cada vez menor e a complementariedade das economias também diminuiu. Esse é o diagnóstico traçado por especialistas que se reuniram ontem no Memorial da América Latina em São Paulo para um seminário de avaliação e perspectivas do Mercosul, que completa 15 anos. Em 1998, o Brasil chegou a destinar 17,4% de suas exportações para os demais países do Mercosul. Esse percentual caiu para 9,9% em 2005. Na Argentina, a fatia de exportações destinadas ao comércio intrazona era de 16,5% em 1991, subiu para 36,3% em 1997 e caiu para 19,2% em 2005. Os dados são da consultoria argentina Abeceb.com. Mesmo nos sócios menores, o Mercosul perde importância. Em 1991, o Uruguai destinava 35% de suas exportações para os demais parceiros. A fatia atingiu 42,7% em 2001, mas caiu para 23,5% em 2005. O Paraguai chegou a destinar 63,4% das exportações para o Mercosul em 2001. Em 2005, foram 54%. De acordo com Dante Sica, ex-secretário da Indústria da Argentina, que atua hoje na consultoria Abeceb.com, a média do comércio intrazona do Mercosul está em 20%. Esse percentual chega a 65% na União Européia e a 70% no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). "Os fatores que interessavam aos países menores foram desaparecendo. O Brasil, que era a potência industrial do bloco, também se transformou em uma potência agrícola. O país diminuiu suas importações de trigo e arroz dos demais países", afirma Sica. Dados da Abeceb.com demonstram que a indústria manteve sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mas perdeu espaço na Argentina, Uruguai e Paraguai. Na média entre 1990 e 1994, a indústria representava 22,5% do PIB brasileiro. Esse percentual ficou em 21,3% entre 2000 e 2004. O Brasil representa por 70% da indústria do Mercosul. Na Argentina, a participação da indústria no PIB caiu de 18,1% entre 1990 e 1994, para 17% entre 1995 e 1999 e 16% entre 2000 e 2004. No Uruguai, a queda foi de 22,9% entre 1990 e 1994, 19,2% entre 1995 e 1999, 17% entre 2000 e 2004. A indústria responde hoje por apenas 13,9% do PIB do Paraguai. Esse percentual era de 14,3% entre 1995 e 1999 e 15,6% entre 1990 e 1994. "O risco do Mercosul não é desaparecer, mas se tornar irrelevante", afirmou Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). Sica chama a atenção para o fato de o Mercosul atravessar uma nova fase de crescimento do PIB e do comércio entre os países. Mas, ao contrário do que ocorreu no período de ouro do bloco, entre 1990 e 1998, esse crescimento não é provocado pelo aprofundamento do Mercosul. O crescimento atual é conseqüência da expansão da Ásia, principalmente China e Índia, que se transformaram em clientes do Mercosul. "O fortalecimento do comércio, ao invés de reforçar a integração, está expondo as fragilidades ", avaliou o professor da Universidade de Brasília, Alcides Costa.