Título: Queda de juro futuro estimula a recuperação da economia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Brasil, p. A3

Com os juros futuros de longo prazo em níveis bem mais baixos que a taxa Selic, a atividade econômica tem um estímulo importante para uma recuperação mais forte nos próximos meses. Como diz o economista Caio Prates, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), são taxas como o juro privado de um ano (o swap de 360 dias) que servem de referência para o custo de empréstimos e financiamentos, além de serem um poderoso condutor de expectativas. Nas últimas semanas, o swap de 360 dias tem oscilado na casa de 15% ao ano, bem inferior aos 16,5% da Selic. Nelson Perez/Valor Caio Prates, da UFRJ: recuo dos juros de prazo mais longo indica ambiente macroeconômico tranqüilo à frente Segundo Prates, quedas mais fortes do juro privado de um ano costumam antecipar altas mais fortes da produção industrial, que tendem a ocorrer depois de um ou dois trimestres da redução das taxas. O recuo do swap de 360 dias para níveis mais modestos (para padrões brasileiros) é um dos motivos que o levam a prever crescimento da economia de 3,8% em 2006, acima dos 3,5% projetados pela média do mercado. Para ajudar, a massa salarial deve ter expansão razoável neste ano, afirma. Além disso, o governo tende a aumentar consideravelmente os gastos públicos num ano eleitoral, colocando mais lenha na fogueira da demanda. O economista diz que o recuo dos juros de prazo mais longo indica um ambiente macroeconômico tranqüilo mais à frente, o que tem impacto positivo sobre as expectativas dos empresários. Nesse cenário, aumenta a disposição do setor privado de fazer investimentos que ampliam a capacidade produtiva da economia. Muitos projetos que não eram rentáveis com os juros em patamares mais altos começam a parecer factíveis, ressalta Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, outro economista do grupo de conjuntura da UFRJ. A recuperação da construção civil neste ano e forte importação de máquinas e equipamentos seriam sinais de maior disposição para o investimento, afirma. Em janeiro, a produção de insumos para a construção civil cresceu 7,2% em relação ao mesmo mês de 2005. Prates dá um exemplo do que acredita ser o impacto da queda dos juros futuros sobre a atividade econômica. A partir de maio do ano passado, quando a Selic estava em 19,75% ao ano, o juro privado de um ano começou a cair, batendo em 17,91% em setembro (mês em que o BC fez a primeira redução da taxa básica, de 19,75% para 19,5%). Esse movimento, para ele, explica parte da retomada da produção industrial no quarto trimestre. Em dezembro, por exemplo, a indústria cresceu 2,3% ante novembro. O bom desempenho no trimestre foi também um ajuste em relação à forte queda observada entre julho e setembro, mas Prates acredita que o recuo dos juros longos ajudou. Segundo analistas, as taxas privadas estão em queda devido à expectativa de recuo da Selic para a casa de 14% a 15% no fim do ano e ao ingresso de recursos estrangeiros para compra de títulos públicos, aproveitando a recente isenção de Imposto de Renda. O economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, lembra que a queda do juro privado de um ano também estimula a economia pelo canal do crédito. Ele nota que as taxas de longo prazo definem o custo de bancos e financeiras na captação de recursos no mercado. Com a queda dos juros futuros nos últimos meses, é provável que haja diminuição nas taxas cobradas nas operações de crédito, acredita Lopes. Em fevereiro, as taxas para empréstimos para pessoas físicas caíram de 59,7% para 59,2% ao ano. Os juros para empresas, porém, subiram de 31,3% para 31,6% ao ano. Os analistas também são otimistas quanto às perspectivas de crescimento do crédito porque os prazos dos financiamentos devem continuar longos. Na verdade, estão aumentando: o prazo médio dos empréstimos para pessoas físicas atingiu 321 dias em fevereiro, acima dos 293 dias do mesmo mês do ano passado. Assim como Prates, Lopes diz que o tombo do juro privado de um ano é um estímulo importante para a atividade econômica em 2006. "Esse é um dos fatores que vão fazer a economia crescer mais do que os 2,3% do ano passado", afirma, ainda que estime uma expansão da economia mais modesta, de no máximo 3,5%. Os analistas também fazem questão de afirmar que não é apenas a queda dos juros futuros que justifica as projeções de crescimento mais robusto neste ano. A massa salarial deve aumentar 5,5% acima da inflação, de acordo com previsão da MB Associados, um desempenho razoável, principalmente porque ocorre depois da expansão de 2,4% em 2004, e de 5% em 2005. O aumento do salário mínimo vai ter papel importante aí, ressalta Prates. Ele também chama a atenção para o empurrão que a economia deve receber da política fiscal. Neste ano, o governo já indicou que fará um superávit primário mais perto da meta de 4,25% do PIB, abaixo dos 4,84% do PIB do ano passado. E, como se trata de um ano eleitoral, o setor público deve aumentar gastos públicos em obras de infra-estrutura, impulsionando o setor da construção civil. Nesse quadro, se o país não vai registrar um crescimento chinês neste ano, pelo menos parece garantida uma expansão superior à de 2005.