Título: Gestão foi marcada por Gtech e sigilo
Autor: Juliano Basile e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A8

O economista Jorge Mattoso chegou à presidência da Caixa Econômica Federal, onde tomou posse em 16 de janeiro de 2003, pelas mãos da então prefeita paulistana Marta Suplicy, de quem era secretário de Relações Internacionais. Por pouco não alçou vôos maiores no governo: a reivindicação inicial da prefeita para seu secretário era a presidência do BNDES. Emocionado em sua posse, Mattoso se colocou como "promotor da qualidade de vida" e disse que atendia a uma chamado histórico . Afirmou que se propunha a ajudar a construir um projeto nacional sem confrontar com valores éticos. Mas em seus três anos de presidência se envolveu em dois casos rumorosos. Além de responsabilizado pela quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, Mattoso também teve que se explicar em relação às negociações para a renovação do contrato da Caixa com a GTech, nas quais Rogério Buratti e Waldomiro Diniz tentaram atuar. O primeiro é o antigo assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando prefeito de Ribeirão Preto. O segundo foi assessor do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, que teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados por quebra de decoro. Entre 2003 e 2004, quando faleceu, trabalhou como assessor na Caixa Ralf Barquete, um ex-secretário de Palocci que era amigo íntimo de Buratti. Na denúncia do Ministério Público Federal, constam acusações contra a Caixa por conta das irregularidades apontadas no contrato firmado entre o banco e GTech, empresa de tecnologia que gere os sistemas lotéricos. O negócio entre o banco e a empresa, envolvendo cerca de R$ 650 milhões em 25 meses, terminou renovado em abril de 2003 por 25 meses com um desconto de 15%, quando a intenção inicial da Caixa era rescindir a dependência com a empresa norte-americana. A Justiça Federal posteriormente rejeitou a denúncia do MP. A aproximação de Mattoso com o PT começou quando o economista trabalhou no DIEESE , entre 1982 e 1989, ocasião em que também tornou-se professor no Departamento de Economia da Unicamp. Durante o regime militar , era o "Renato", integrante do clandestino Partido Operário Comunista, uma organização trotskista desbaratada pela repressão em 1971. Preso e torturado por um ano no DOI-CODI em São Paulo, partiu para sete anos de exílio no Chile e na França. De 1989 em diante , Mattoso reforçou a sua ligação com o PT, participando das equipes que cuidaram do programa de governo de Lula em suas campanhas presidenciais derrotadas. Teve maior envolvimento na de 1989, quando, junto com o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), escreveu o plano de ação na primeira tentativa de Lula de alcançar a presidência. Na última campanha, atuou à distância, na formulação de propostas na área de emprego. Licenciou-se do cargo de professor para assumir a secretaria de Relações Internacionais no governo de Marta Suplicy, em 2001. A prefeita retomou a secretaria criada na gestão de Luiza Erundina e desativada durante o governo de Paulo Maluf e Celso Pitta . O papel de Mattoso na Prefeitura de São Paulo foi fundamental na negociação com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ajudou a prefeita a sanar parte das dívidas municipais.