Título: Política econômica deve ser mantida
Autor: Juliano Basile e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A8

A escolha de Guido Mantega para o comando do Ministério da Fazenda significa a manutenção da política econômica, avaliam economistas ouvidos pelo Valor. A expectativa destes analistas é que Mantega, mesmo conhecido pelas críticas aos juros altos e à busca de um superávit primário acima dos 4,25% do PIB, deve adaptar seu discurso e atuar de forma alinhada com o antecessor Antonio Palocci. A maior parte dos analistas, contudo, contava com a manutenção da equipe de Palocci, inclusive do secretário-executivo Murilo Portugal, que ontem pediu demissão. O diretor-presidente da RC Consultores, Paulo Rabello de Castro, diz que a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "foi caseira para não balançar a roseira". Na sua avaliação, Guido Mantega na Fazenda será diferente daquele que estava no BNDES. Para Rabello, a política econômica atual é mais do presidente Lula e dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Portanto, pouca diferença fará quem comandar a Fazenda. "Lula não tem segurança em uma outra política econômica, por isso deseja as coisas no mesmo pé. Ele já tem inflação mais baixa e uma grande massa de população de renda mais baixa que vota nele", analisa o economista. Para o professor da Universidade de Princeton, José Alexandre Scheinkman, "a política econômica é do presidente Lula". Ele acredita que Mantega vai orientar o presidente, mas a palavra final será de Lula. Ele afirma também que ao ocuparem cargos diferentes no governo, as pessoas defendem políticas diferentes. Para o economista, o mais importante agora é o governo sinalizar claramente que manterá o superávit fiscal. Em anos eleitorais, a tendência é gastar mais, diz ele. "Mas o superávit fiscal é o mais importante pilar da estabilidade." Para o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e sócio-diretor da Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo, "quem sai é o ministro da Fazenda e não a equipe econômica". Ele acredita que a manutenção da equipe reforçaria a linha de que não haveria mudanças na equipe econômica. "A última coisa que Lula quer é uma marola na área econômica". Para o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, a substituição de Palocci por Mantega é o menor dos problemas de Lula. Ele acredita que Mantega não vai alterar a orientação econômica atual e vai fazer "o que Lula mandar". Mendonça de Barros entende que, como Lula sabe que parte de seu sucesso deriva da política econômica, não vai mudá-la agora. O problema de Lula, diz ele, é outro: o mercado começará a perguntar quem será o Palocci num eventual segundo mandato petista. A questão, argumenta, é que não há confiança em Lula no que se refere à política econômica. Em direção oposta aos demais economistas ouvidos pelo Valor, Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular da Unicamp, aposta em uma mudança ainda que sutil com o novo ministro. "Acredito que os juros básicos possam cair mais depressa", diz. Para ele, as crises brasileiras sempre acontecem devido a problemas no balanço de pagamento. No entanto, com a situação internacional favorável, o balanço está confortável e há, portanto, espaço para uma política econômica mais favorável ao crescimento.