Título: Risco-país baixo e PIB fraco marcam gestão da economia
Autor: Juliano Basile e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A8

O saldo da passagem de Antonio Palocci pelo Ministério da Fazenda é ambíguo. Em sua gestão, o Brasil fez um impressionante ajuste das contas externas, reverteu a trajetória de crescimento da dívida pública e controlou a inflação. Ao mesmo tempo, a economia cresceu taxas medíocres e os juros seguiram em níveis estratosféricos, dificultando investimentos e acentuando a valorização do câmbio. Dois indicadores mostram claramente essa ambigüidade: enquanto o risco-Brasil caiu para a casa de 230 pontos, próximo das mínimas históricas, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu muito pouco de 2003 a 2005: 2,6%. Palocci assumiu a Fazenda em condições difíceis, pressionado a provar que o governo Lula não mudaria a orientação da política econômica. Para isso, radicalizou na ortodoxia, anunciando, logo no começo de 2003, o aumento da meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB. Além de manter o compromisso com a política fiscal austera, o ministro não mexeu nos outros dois pilares da política econômica do governo Fernando Henrique: o regime de metas de inflação e o câmbio flutuante. Também sustentou a política monetária conservadora adotada pelo Banco Central (BC), que ajudou a derrubar a inflação de 12,5% em 2002 para 9,3% em 2003 e produziu crescimento de 0,5%. A estratégia de Palocci de recuperar a confiança dos investidores deu certo, como mostra a queda do risco-país para 463 pontos no fim de 2003, 81% abaixo dos 2.436 pontos de setembro de 2002. Além da austeridade fiscal, ajudou nesse processo o bom desempenho das contas externas. Em 2003, o país teve o primeiro superávit em conta corrente (a balança comercial, a de serviços e as transferências unilaterais) do Plano Real. O ajuste externo foi, sem dúvida, o grande avanço da era Palocci. Beneficiado pela forte expansão da economia global e pela baixíssima aversão ao risco, o Brasil bateu recorde atrás de recorde na balança comercial. Em 2005, o país exportou US$ 118 bilhões e teve superávit de US$ 44,8 bilhões, o que garantiu saldo em conta corrente de 1,8% do PIB. Foi uma forte virada: em 1999, o déficit em conta corrente foi de 4,8% do PIB. A equipe econômica aproveitou a bonança internacional para melhorar o perfil do endividamento do governo, outro mérito da gestão Palocci. A parcela da dívida doméstica atrelada ao câmbio, que atingira 40% em setembro, de 2002, foi zerada - com a atuação do BC no mercado futuro, o país tornou-se credor em dólar na dívida interna. Os analistas também ressaltam a forte queda da dívida externa brasileira, que era de US$ 210,7 bilhões em 2002 e terminou 2005 em US$ 168,9 bilhões. No front fiscal, a gestão de Palocci teve o mérito de inverter trajetória de alta da relação entre a dívida pública e o PIB. Depois de dez anos de crescimento ininterrupto, o indicador caiu de 57,2% em 2003 para 51,7% em 2004. No ano passado, com o aumento dos gastos com juros - R$ 157 bilhões -, a relação dívida/PIB ficou praticamente estável, em 51,6%, ainda que o governo tenha gerado superávit primário de 4,84% do PIB. Nos últimos meses, aumentaram às críticas à qualidade da política fiscal. Depois de cortar gastos em 2003, o governo voltou à estratégia da administração tucana, baseada em aumento simultâneo de receitas e gastos e em contenção de investimentos. Em 2005, os gastos não financeiros cresceram 10% acima da inflação. Para analistas, faltou coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Palocci terminou sua gestão na Fazenda sem desmontar a armadilha formada por juros altos e câmbio valorizado. Ao longo de 2005, o ministro perdeu parte do respaldo empresarial justamente por não ter conseguido mudar essa combinação, que prejudicou investimentos e afetou parte das exportações. A boa notícia foi a queda da inflação, que terminou 2005 em 5,7% e deve ficar neste ano muito próxima da meta, de 4,5%. Nesse cenário, o legado de Palocci em termos de crescimento não vai deixar saudades. Depois de crescer 4,9% em 2004, o PIB voltou a patinar em 2005, com evolução de apenas 2,3%. Na média, um crescimento medíocre, de 2,6%.