Título: Demissão marca o fim do "núcleo duro" do governo
Autor: Raquel Ulhôa e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A11

A demissão do ministro Antonio Palocci (Fazenda) representa o fim do chamado "núcleo duro" do Palácio do Planalto, os "quatro ases" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que constituía o grupo mais poderoso de ministros do PT, mas que nunca efetivamente conseguiu dar uma coordenação unificada ao governo. A marca do "núcleo duro", do apogeu ao declínio, que se inicia com o fatiamento da Casa Civil, no início de 2004, foi o enfrentamento entre seus integrantes. Joedson Alves/AE - 5/4/2003 Dulci, Dirceu, Gushiken e Palocci com Lula: do núcleo original resta apenas o primeiro, enquanto os restantes foram substituídos por nomes como Dilma, Ciro, Jaques Wagner e Thomaz Bastos Além de Palocci, integravam o grupo os ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Dulci é o único remanescente numa paisagem hoje dominada por outras personagens, como Dilma Rousseff, no lugar de Dirceu, Jaques Wagner (Relações Institucionais), Ciro Gomes (Integração Nacional), e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). A Dirceu coube a tarefa de assegurar a governabilidade política e a ampliação da base de apoio ao governo no Congresso. Dulci articulava, como ainda hoje, os contatos com os movimentos sociais. Palocci ficou encarregado de garantir a estabilidade econômica. Desde o início Dirceu assumiu uma posição de contraposição a Palocci, como porta-voz de uma legião petista inconformada com o pragmatismo da política econômica, mas nos momentos decisivos sempre esteve ao lado do ministro da Fazenda. O primeiro baque no "núcleo duro" se deu no início da 2004, quando Lula cedeu às pressões do Congresso para levar outros partidos para o governo e resolveu aproveitar para "despetizar" um pouco o Planalto. Nesse movimento dividiu a Casa Civil, tirando poderes daquele que então era considerado uma espécie de primeiro-ministro (José Dirceu) e levou Aldo Rebelo para a coordenação política do governo. Em seguida ocorreu o escândalo Waldomiro Diniz - Dirceu nunca se recuperou totalmente do desgaste provocado pelo assessor pilhado quando pedia propina a um empresário. Enfraquecido, Dirceu caiu quando foi acusado, em meados de 2005, de chefiar o suposto esquema de pagamento de mensalão a deputados da base governista. Desde então Palocci se vê às voltas com as peripécias atribuídas à "turma de Ribeirão Preto", mas mantinha-se na linha de frente graças à estabilidade econômica. Nos últimos dias, sua capacidade para operar politicamente era questionada no governo e por ele próprio. Lula chegará à disputa da reeleição sem a cabeça, o grupo que foi fundamental para sua eleição e três primeiros anos de governo.