Título: Novo ministro fará poucas mudanças, avalia mercado
Autor: Raquel Ulhôa e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A11

A escolha do presidente do BNDES, Guido Mantega, para o Ministério da Fazenda é um mal menor, disse ontem um presidente de banco estrangeiro que preferiu não se identificar. Segundo ele, seus colegas de mercado vinham demonstrando preferência por Mantega para substituir Antonio Palocci, pois consideram que Mantega promoverá menos mudanças, principalmente no que diz respeito à política monetária. Segundo esse presidente de banco, Mantega deverá seguir mais facilmente as orientações do presidente Lula e de técnicos do mercado no que diz respeito à manutenção da atual política econômica do que o senador Aloizio Mercadante seguiria. Além disso, o senador petista poderia fazer exigências políticas para abandonar a disputa com Marta Suplicy para concorrer como candidato do PT ao governado do Estado de São Paulo, o que não seria desejável ao presidente Lula. De forma consensual, o mercado preferia o secretário-executivo do Ministério da Fazenda demissionário Murilo Portugal para substituir Palocci, mas sabia que esse nome não seria aceito no interior do PT, por estar muito vinculado ao PSDB. A opção de manter Palocci também foi ficando cada vez mais difícil, principalmente depois do caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Outro presidente de banco estrangeiro que preferiu não se identificar disse que a substituição de Palocci trará volatilidade aos mercados, mas apenas temporária, pois há um consenso de que a política econômica será mantida. Ele avalia que a mudança não irá retrair o crédito externo bancário ao país, apesar de poder causar uma baixa nos títulos da dívida externa brasileira, com impacto de alta mais imediata no risco-Brasil. Um gestor de recursos ouvido pelo Valor acredita que a meta de inflação a ser divulgada em breve será mantida em 4,5% para 2008 e que o Conselho Monetário Nacional, do qual faz parte o ministro da Fazenda, terá pouca margem de manobra para alterar a política atual, que já é de queda gradual na taxa de juros. A política econômica do governo não será alterada com a saída de Palocci e por isso a medida não impacta a classificação de risco de crédito do país, disse a analista de rating soberanos da Standard & Poor's, Lisa Schineller. Ela acha "natural" que aconteça um aumento nos gastos públicos em ano eleitoral, mas acredita que a meta de superávit fiscal de 4,25% do Produto Interno Bruto será cumprida. Para ela, as denúncias de corrupção envolvendo partidos não impactam o rating brasileiro. Ela disse que a Rússia está em um lugar bem pior do que o Brasil no ranking dos países com práticas mais negativas de corrupção, mas que nem por isso deixa de ser grau de investimento. "Há corrupção em toda a classe política em todos os países do mundo e o que nos interessa do ponto de vista de rating é avaliar o que isso impacta a economia", diz Lisa Schineller. Para a presidente da Standard & Poor's no Brasil, Regina Nunes, mais importante do que a saída de Palocci, ou do que as denúncias de corrupção, é o fato de o "orçamento do país ainda não ter sido aprovado até hoje". O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, indagado ontem pela manhã se permaneceria no cargo, disse que não deixaria o posto enquanto o ministro Palocci quisesse. Levy é cotado para representar o Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).