Título: Lula é o próximo alvo da oposição
Autor: Raquel Ulhôa e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Política, p. A11

Com o ex-ministro Antonio Palocci fora do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o próximo alvo dos ataques da oposição. A estratégia do PFL e do PSDB, agora, é desgastar o presidente ao máximo até as eleições de outubro, responsabilizando-o por todas as irregularidades apontadas em seu governo. Uma das táticas é mostrar que todos os homens fortes de Lula caíram sob denúncias - Palocci era o último integrante importante do chamado "núcleo duro" ainda no cargo. "O grande responsável por tudo é o Lula. O mandante é o Lula. Ele é o chefe de todos", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), um ex-aliado estratégico do governo, principalmente nas questões econômicas. "Não resta mais nada do governo Lula. Só fumaça. Quem mostrou alguma qualidade caiu. E agora resta ao Lula calçar as sandálias da humildade e dizer à nação que foi enganado ou que sabia de tudo e é responsável por tudo", afirmou Tasso. As lideranças do PFL e do PSDB se mostraram indiferentes quanto à indicação de Guido Mantega - "ou outro nome qualquer" - para substituir Palocci. "Não importa quem vai para o lugar, porque vai fazer a mesma política deletéria, com os recursos públicos", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), outro ex-aliado estratégico do presidente na oposição. Para Tasso, "a mediocridade" vai continuar, mas as instituições brasileiras estão fortes para chegar ao fim do governo. O maior temor da oposição é que o governo abra o cofre nestes meses que antecedem às eleições. O presidente do PSDB disse que, no "desespero" para se eleger, Lula pode lançar mão de "gastanças e bondades", capazes de causar um rombo nas contas públicas. No intuito de tentar atingir o presidente, PSDB e PFL querem mostrar que o governo petista envolveu em corrupção instituições antes intocáveis no país, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Petrobras. Esse foi o principal mote do duro discurso que ACM fazia da tribuna, quando a notícia do afastamento do ex-ministro foi dada no plenário do Senado pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). "Isso prova, mais uma vez, que o presidente nomeia, mas não demite. Quem demite é a sociedade", disse o tucano. ACM interrompeu a linha do seu pronunciamento para pedir a prisão de Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal - que deixou o cargo horas depois. Foi seguido por outros pefelistas e tucanos. Para José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da Minoria na Câmara, a crise não acaba com a queda de Palocci. Ele pede investigações a fundo sobre o vazamento e punição de todos os culpados. Sobre o mensalão e todas as demais denúncias de corrupção, Aleluia diz que "a crise do governo é Lula". A notícia do afastamento de Palocci pegou os senadores governistas de surpresa. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), telefonou para o ex-ministro cerca de uma hora depois e teve a confirmação. "Ele me disse que pediu afastamento definitivo. Eu considero lamentável, porque o ministro Palocci trouxe benefícios significativos a esse país, como controle da inflação, geração de emprego e distribuição de renda". O deputado Maurício Rands (PT-PE), relator-adjunto da CPI dos Correios, destacou a "demonstração de maturidade das instituições brasileiras e do ministro, que deixa o cargo para mostrar que não terá influência alguma nas investigações" sobre o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo. "Palocci se coloca ao lado pleno da verdade e do esclarecimento", afirmou o petista. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais aliados de Lula no PMDB, defendeu Palocci, mas disse que seu afastamento "alivia" a crise. Segundo Renan, o ex-ministro foi vítima de "um fogo amigo brando".