Título: Casas Bahia e Bradesco fecham parceria no crédito
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Finanças, p. C-1

A mais cobiçada noiva do varejo , a Casas Bahia, escolheu seu parceiro exclusivo, o Bradesco, ao menos por três anos. Os dois gigantes do mercado brasileiro, a maior distribuidora de bens de consumo e o maior banco privado, anunciaram, ontem, um acordo de parceria que garante ao Bradesco a exclusividade do financiamento das vendas da Casas Bahia. O acordo teve um caráter solene e reuniu, ontem, na Cidade de Deus, Osasco, sede do banco, o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, e seu braço direito, o presidente Márcio Cypriano; e os donos da Bahia, Samuel Klein, diretor presidente, e seu filho, Michael Klein, diretor executivo administrativo.

Com sua verve, estilo direto e bom humor, Samuel Klein roubou a cena. Às perguntas insistentes da imprensa que queria entender porque o Bradesco não pagará nada para colocar o pé em uma das mais bem sucedidas operações de varejo do mercado, Samuel Klein respondeu: "O Bradesco não vai pagar nada não. Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto". Outros bancos fizeram acordos semelhantes pagando ágios elevados. O Unibanco fez parceria com a Magazine Luiza e Ponto Frio. O caso mais recente foi o do acordo do Itaú com o Pão de Açúcar, que custou R$ 455 milhões ao banco, dos quais R$ 380 milhões só em ágio, para financiar as vendas da rede de supermercado por dez anos. Para entender a lógica do negócio, é preciso olhar para a frente, disse uma fonte que acompanhou as negociações, que levaram apenas um mês. A Casas Bahia tem um ambicioso plano de crescimento e recorreu ao funding externo do Bradesco para voltar suas baterias para seu próprio negócio. E o banco quer ampliar as rentáveis operações de financiamento ao consumo. A Casas Bahia financia cerca de 80% de suas vendas, o que significa uma carteira de crédito de R$ 4,5 bilhões, considerando as vendas de R$ 6 bilhões do ano passado. A maior parte da carteira é financiada com recursos próprios e apenas R$ 1 bilhão são captados no mercado financeiro. Tudo isso será mantido. O funding agora receberá o reforço gradual mas poderoso do Bradesco. Pelo acordo, o banco assumirá o financiamento de pelo menos R$ 100 milhões em vendas por mês e a expectativa, disse Cypriano, é chegar a R$ 3 bilhões em um ano. Isso significa um aumento de 20% nas operações de financiamento ao consumo do banco, que já haviam saltado 38% entre setembro de 2003 e setembro passando, atingindo R$ 15,1 bilhões. Os recursos custarão um pouco mais do que a taxa do CDI e o spread que será cobrado nos financiamentos das vendas é embolsado pela Casas Bahia. As taxas da rede de varejo variam atualmente de zero em algumas promoções, como a venda de móveis, a 5,9% ao mês. A inadimplência gira entre 8% e 8,5%. Em uma segunda etapa, disse o diretor executivo do banco, Paulo Isola, o Bradesco vai vender produtos financeiros aos clientes da Casas Bahia, como cartões e seguros, com a instalação de quiosques na rede de varejo. A Casas Bahia tem um acordo com o Banco Popular do Brasil, braço do Banco do Brasil, que será mantido e permitiu ao banco montar pontos de atendimento em dez lojas, onde ele pode financiar e atender seus clientes, informou Michael Klein. A Casas Bahia tem registrado um crescimento acelerado e aposta que o acordo vai dar mais gás aos negócios. As vendas devem crescer 33% neste ano, dos R$ 6 bilhões de 2003 e para R$ 8 bilhões. A previsão para 2005 é de um aumento de mais 25%, levando as vendas para a marca dos R$ 10 bilhões. Com o acordo, Michael Klein já se anima a falar em R$ 12 bilhões em vendas no próximo ano. Os números da Casas Bahia, assim como os do Bradesco, são sempre grandiosos. Hoje, a rede está abrindo a loja que vai ocupar o antigo prédio do Mappin, no centro velho de São Paulo, onde espera vender de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões. E, no dia 1º de dezembro, vai abrir a superloja ocupando os 52 mil metros quadrados do parque Anhembi, o dobro da área do ano passado. A expectativa é que só essa loja venda R$ 100 milhões, levando o faturamento do mês a atingir R$ 1,5 bilhão. Apoiada no funding do Bradesco, vai se voltar mais a seu foco - "comprar bem comprado e vender bem vendido", como sintetiza Samuel Klein. A expansão da rede também pode superar as previsões. Nos últimos três anos, a rede, de 52 anos, passou de 325 para 400 lojas, chegando recentemente a mercados novos como o Sul do país. No próximo ano, pretendia abrir mais 50 lojas, indo inclusive para o Nordeste. Agora, Michael Klein já pensa no dobro.