Título: Greve da Anvisa afeta indústria
Autor: André Vieira e Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Empresas &, p. B1

A greve iniciada no dia 21 de fevereiro pelos inspetores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos portos e aeroportos está afetando laboratórios farmacêuticos e empresas de alimentos que importam matérias-primas e produtos acabados. Produção paralisada, estoques vazios, falta de produtos e de insumos começam a atrapalhar a rotina dos executivos e o planejamento das empresas. Segundo os grevistas, cerca de 80% das principais portas de entrada do país - entre elas, o porto de Santos e os aeroportos de Guarulhos e Viracopos - são afetados pela paralisação, que atinge oito Estados e o Distrito Federal. Os inspetores pedem mudanças na carreira. As empresas tentam buscar medidas judiciais para liberar as mercadorias, mas os problemas vêm se acumulando nos depósitos dos aeroportos. Por conta do excesso de volume de produtos, a Infraero está buscando novos galpões para comportar as mercadorias à espera da fiscalização dos inspetores. "Já sentimos a falta de algumas apresentações de medicamentos contra o mal de Alzheimer e Parkinson, reposição hormonal e transtornos de hiperatividade", disse o diretor de assuntos corporativos da farmacêutica Novartis, Nelson Mussolini. A Novartis ainda calcula o impacto da não-liberação das mercadorias, mas avalia que os prejuízos serão sentidos em abril caso a greve se prolongue. "Não entro no mérito da greve, mas a população começará a ficar desabastecida", disse Mussolini, que estuda entrar com mandado de segurança, ainda nesta semana, na Justiça. A Interfarma, que reúne os laboratórios farmacêuticos estrangeiros, contabiliza 450 casos de medicamentos com problemas na alfândega. A maioria das empresas é receosa e tem medo de represálias por parte dos fiscais. Segundo apurou o Valor, Abbott e Janssen-Cilag enfrentam problemas, mas preferem não comentar o assunto. A escassez de matérias-primas já levou empresas a interromperem a produção. A fabricante de sucos prontos Da Fruta, que importa 24 toneladas de polpa de pêssego por mês do Chile e da Argentina, parou a produção deste sabor de suco desde o fim de fevereiro, diz o gerente geral Daniel Luna. O suco pronto de pêssego representa 8% desta categoria de produtos da companhia, que está buscando parceiros nacionais para suprir a necessidade. Com fábrica em Aracati (CE), a Da Fruta só poderá normalizar sua produção oito dias após o fim da greve porque a matéria-prima entra no país pelo porto de Santos. A fabricante de medicamentos para uso veterinário Interchange, de Campinas, reduziu a produção a 40% da sua operação normal devido à falta de insumos. O diretor presidente da empresa, Ermete Antônio Wergher, afirma que a empresa deixou de entregar R$ 1 milhão em produtos desde fevereiro. Segundo ele, a Infraero cobra até 7% do valor carga por mês de armazenagem nos aeroportos. A americana Fortitech, fabricante de sistemas de nutrientes personalizados para as indústrias de alimentos e produtos farmacêuticos, afirma que ainda não foi afetada pela greve porque trabalha com grandes estoques para atender os contratos de clientes. No entanto, o diretor geral da Fortitech, Juarez Fairon Rech, teme que seus clientes não consigam importar outras matérias-primas e que isso gere uma redução nos seus pedidos. "O aumento da armazenagem nos portos e a redução dos estoques das indústrias serão insustentáveis daqui a uma semana", afirma. A companhia, que tem grandes clientes como a Nestlé, importa vitaminas e minerais da Europa e dos Estados Unidos por meio do aeroporto de Viracopos e do porto de Santos. No dia 17, o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) conseguiu liminar da Justiça para liberar produtos perecíveis de seus associados, segundo o diretor do departamento jurídico do Ciesp, Luis Carlos Galvão. Mesmo assim, segundo o presidente da Interchange, a liberação está sendo muito lenta devido ao grande número de associados.