Título: Cargill e Crystalsev terão refinaria na Síria
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Agronegócios, p. B12

A gigante americana Cargill e a trading brasileira Crystalsev, responsável pela comercialização de açúcar e álcool de nove usinas de São Paulo, começam a pôr em prática o projeto conjunto de construção de uma refinaria de açúcar na Síria. O investimento está estimado em US$ 50 milhões, segundo uma fonte próxima à negociação. "A planta deverá entrar em operação em 18 meses", informou a mesma fonte. O projeto está em fase final de análise. "Já vamos iniciar a fase de engenharia da refinaria", afirmou. A refinaria será construída na região litorânea da Síria, próxima a Damasco. A capacidade instalada da futura unidade será de 1 milhão de toneladas de açúcar. As duas companhias terão como sócios empresários sírios. A Cargill terá uma participação de 40% no negócio e, a Crystalsev ficará com 10%. O restante ficará nas mãos dos empresários locais. Procuradas, as duas empresas confirmaram o projeto, mas preferiram não dar mais detalhes. Conforme apurou o Valor, a localização da refinaria próxima ao porto facilitará o escoamento do açúcar demerara importado dos navios até a planta. O açúcar refinado deverá atender à demanda local e também deverá ser exportado para os países do Oriente Médio. Somados, os países da região são os maiores importadores do açúcar brasileiro. Esses países atualmente compram açúcar branco da União Européia, mas a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) a favor do Brasil em recente reclamação contra os subsídios da UE deverá reduzir a oferta de açúcar refinado europeu ao Oriente Médio. O projeto das duas companhias começou a ser desenhado há quase dois anos, mas ganhou corpo quando a UE definiu as mudanças do seu regime açucareiro. Os países europeus deverão reduzir em dois terços suas exportações de açúcar, que hoje somam cerca de 5 milhões de toneladas por ano. Para os sócios do projeto, a produção de açúcar refinado na Síria deverá implicar em redução de custos aos importadores da região. O projeto da refinaria tem forte apelo porque também vai criar postos de trabalho. Os equipamentos industriais para a instalação da refinaria já começaram a ser importados. Mas, ao contrário da expectativa do mercado, a tecnologia da refinaria não será 100% brasileira. "O câmbio atual inviabiliza a importação de equipamentos brasileiros", disse a fonte próxima às negociações. Parte dos equipamentos será importado de Turquia e Alemanha. Este não é o primeiro investimentos da Crystalsev fora do país. Também em parceria com a Cargill, o grupo paulista tem uma destilaria de desidratação de álcool em El Salvador. Essa planta recebe o álcool brasileiro, onde o produto é reindustrializado e reexportado para os Estados Unidos por meio do acordo CBI (Caribbean Basin Initiative). Por meio desse acordo, o álcool da região do Caribe entra nos EUA com isenção de impostos. A parceria entre as duas empresas no Brasil começou em 1998, quando as usinas da Crystalsev passaram a ser fornecedoras da multinacional americana. Três anos depois, as duas empresas firmaram sociedade em dois terminais de açúcar - um a granel, no Guarujá (SP) e outro de ensacados em Santos (SP). Também são parceiras em um terminal de álcool em Santos com outras empresas. No Brasil desde 1965, com forte atuação em grãos, a Cargill decidiu criar um departamento de açúcar no início da década de 90. No ano passado, a multinacional anunciou que estava em negociação para a compra da Açucareira Corona (controlada pelo grupo Cosan), com duas usinas em São Paulo, mas a investida fracassou. Analistas de mercado afirmam, contudo, que a múlti não desistiu de ter usinas no país.