Título: Câmbio debilita as exportações de flores do país
Autor: Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, Agronegócios, p. B12

A desvalorização do dólar em relação ao real e seus reflexos no quadro doméstico de oferta e demanda de flores já comprometem o ritmo de crescimento do segmento no país. Por conta do câmbio, as exportações cresceram menos que o previsto em 2005 e as importações ganharam competitividade, o que faz crescer a concorrência interna e afeta os preços. Ricardo Benichio/Valor Segundo Luiz Hissashi Ono, dono de floricultura em São Paulo, preços no mercado interno estão praticamente estáveis Os embarques nacionais de flores e plantas ornamentais totalizaram US$ 25,7 milhões no ano passado, 9,6% mais que em 2004. As previsões iniciais, no entanto, indicavam que as vendas externas alcançariam cerca de US$ 30 milhões. Como o dólar custa a reagir, a Câmara Setorial Federal de Flores e Plantas Ornamentais, ligada ao Ministério da Agricultura, prevê queda de 15% a 20% neste ano. Para as importações, as estimativas ainda são de estabilidade em 2006, no mesmo patamar observado nos últimos anos - cerca de US$ 5,5 milhões, principalmente de gladíolos e amarílis. Renato Opitz, presidente da câmara, concorda que o fator preço pode estimular importações, mas lembra que o aumento da qualidade da produção brasileira e as dificuldades logísticas minimizam o "incentivo". Com isso, diz, as vendas no mercado doméstico - com estimativa de alta de 10% em volume para este ano - podem compensar parte da queda das exportações. Mas Opitz ressalva que, por conta da conjuntura atual, os preços internos deverão diminuir até 3%, principalmente pela disseminação de pólos produtores fora de São Paulo. Segundo o produtor Eduardo Yamaguchi, de Campinas (SP), os preços médios do crisântemo, cujas mudas são líderes na pauta de exportações do país, estão hoje 4% mais baixos do que no mesmo período de 2005. O faturamento de Yamaguchi cresceu 15% de lá para cá, mas em virtude do maior volume de vendas. Hélio Junqueira, da consultoria Hórtica, explica que o mercado é mais fraco no início de ano, e evita fazer prognósticos. Mas admite que "o mercado não tem trabalhado com expectativa de crescimento acelerado, exceto para plantas de jardinagem e paisagismo". Mas, ainda assim, espera-se algum fôlego extra em decorrência do aumento do salário mínimo. Entre os que acreditam nisso está Luiz Hissashi Ono, proprietário de uma floricultura na capital paulista. Segundo ele, tem havido uma melhora constante nas vendas de flores no primeiro bimestre. Ono confirma, porém, que os preços se mantém praticamente os mesmos de 2005. Opitz e Ono acreditam na possibilidade de melhora do mercado a partir de maio. "Para o Dia da Mulher os preços mostraram recuperação e tudo indica que o Dia das Mães será melhor", afirma Opitz. Ana Rita Pires Stênico, gerente do Mercado de Flores do Ceasa em Campinas, concorda. No entreposto, as vendas ficaram em R$ 12 milhões no primeiro bimestre, recuo de 4,7% sobre o mesmo período no ano anterior. Segundo a gerente, a queda em volume negociado nos dois primeiros meses foi de 8,26% sobre 2005. Preocupados em estimular as vendas, o Sebrae e toda a cadeia produtiva paulista das flores, responsável por 70% da produção nacional e 50% do mercado consumidor, desenvolveram o Projeto Flores São Paulo. O objetivo do plano é aumentar consumo e faturamento em 20% no Estado até o fim de 2008. Outras metas propostas pelo programa são elevar a qualidade em 40% e reduzir o descarte de produtos em até 50%. Para isso, a idéia é realizar cursos em produção, comercialização, administração de negócios e recursos humanos. "Vamos buscar a integração do setor: o decorador vai até o produtor, o produtor vai até o ponto de venda para conhecer melhor os elos", diz Opitz.