Título: Juros futuros despencam com ata do Copom e aumento na gasolina
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Finanças, p. C-2

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central provocou um forte movimento de queda nas taxas de juros futuras. "A ata foi menos dura do que o mercado esperava", comenta Victoria Werneck, economista-chefe do UBS. As apostas de que a autoridade monetária elevaria os juros básicos Selic em 0,75 ponto percentual em dezembro se reduziram: agora, a maior parte dos investidores aposta em alta de 0,5 ponto e alguns chegam a arriscar 0,25. Para janeiro, parte do mercado aposta em aumento de 0,25 ponto na Selic ou estabilidade. Um dos itens que mais chamou a atenção dos especialistas de mercado ouvidos pelo Valor foi o fato de, na ata, o Banco Central ter frisado que a inflação projetada por seus modelos para 2005, embora ainda distante da meta, caiu em relação à reunião do Copom de outubro. Também animou os investidores o fato de o BC ter alertado que o risco de a inflação de 2004 passar o teto da meta foi reduzido. Desde a quinta-feira da semana passada os juros vêm subindo com força, pois, em comunicado após a reunião de quarta-feira, o Copom havia tirado a palavra "moderado" do processo que qualificava a alta de juros. O mercado entendeu que as puxadas nas taxas básicas seriam mais fortes e passou a projetar um aumento de 0,75 ponto percentual na Selic em dezembro. O contrato de juros do Depósito Interfinanceiro com vencimento em abril na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o mais negociado, veio projetando taxas maiores desde o dia 18, após a reunião do Copom, chegando a 18,042% anteontem, na comparação com os 17,686% ao ano do dia 17, antes do fim da reunião do Copom. Ontem, após a ata do Copom, as taxas projetadas caíram com força, para 17,923%, mas continuaram bem acima das projetadas no dia 17. "Eu mantive minha estimativa, de alta de 0,5 ponto percentual", disse o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz. Segundo ele, o BC deixou claro a importância das expectativas de inflação futura na condução da política monetária. "A expectativa é chave para determinar a inflação corrente", afirma Lintz. Os preços do petróleo também serão observados de perto pelo BC, completa Victoria Werneck. Os dois economistas ressaltaram que o aumento dos derivados de petróleo anunciado ontem pela Petrobras devem contribuir para puxar para baixo as projeções do mercado para a inflação em 2005, que eram de 5,9% segundo o boletim "Focus" da segunda-feira, acima da meta que está sendo perseguida pelo BC, de 5,1% no ano que vem. Com a alta no preço do petróleo, já se sabia que a Petrobras iria subir preços, mas a dúvida era quando e em que percentual. "É um elemento de incerteza a menos", diz Victoria Werneck, que também acredita em alta de 0,5 ponto na Selic em dezembro. "Mesmo as variáveis negativas tiveram um tratamento mais ameno nesta ata do Copom", acredita Lintz. O BC considera que o repasse dos preços do atacado para o varejo simplesmente "requer atenção", exemplifica. Além disso, diz, a ata passa a impressão de que o ritmo de crescimento econômico já começou a desacelerar, em especial da produção industrial, como impacto dos juros mais altos, diz. "Essa avaliação parece indicar que o ciclo de ajuste nos juros pode estar chegando ao fim", conclui Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Schahin. "A autoridade monetária também começa a vislumbrar sinais mais claros de um crescimento sustentado, com ênfase nos segmentos ligados à renda", nota Alexandre Póvoa, economista-chefe do Modal Asset. "O Comitê continua a demonstrar preocupação com a expansão da oferta", nota Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Mas, como lembra ele, a ata cita declínio na utilização da capacidade instalada em setembro de acordo com os números da CNI. Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora, identificou um detalhe que considera importante: a ata não mais insiste na necessidade de que as expectativas de inflação sejam iguais à meta de 5,1% para 2005. "Em três pontos diferentes do documento é citado objetivo de promover a convergência da inflação à 'trajetória das metas', que, em 2005, é na verdade de 2% a 7%", escreve ele, que vê uma maior probabilidade de aumento de 0,25 ponto na Selic em dezembro.