Título: Queda dos juros é a esperança dos gestores de carteiras
Autor: Por Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2006, EU &, p. D1

O setor de fundos vem acompanhando de perto todas as mudanças ocorridas no país nos últimos 20 anos - crescimento da economia, hiperinflação, mudança de moeda, vários planos econômicos e diferentes governos. Nada disso, porém, foi suficiente para alavancar a participação dos fundos de ações dentro do setor. Mas há uma luz no fim do túnel e que se torna cada vez mais forte - que é a queda da taxa de juros. Com a perspectiva de obterem retornos bem mais mirrados na renda fixa, o investidor se verá obrigado a aplicar em carteiras mais arriscadas se quiser manter o nível de retorno. A história comprova a tese. Em vários países onde houve uma queda dos juros, os fundos de ações ganharem importância. O superintendente de renda variável do Banco Itaú, Walter Mendes, cita o exemplo da Espanha. Em 1993, quando o juro real espanhol (taxa nominal descontada a inflação) era superior a 8% ao ano, os fundos de ações representavam apenas 3% do total do setor de fundos da Espanha. Já em 2004, depois do país aderir à Comunidade Européia e o juro real despencar para zero, as carteiras de renda variável respondiam por 30% da indústria espanhola de fundos. "Depois que os juros da Espanha caíram, esse processo ainda demorou um pouco, mas quando ocorreu, os fundos de ações cresceram numa velocidade vertiginosa", diz Mendes. A demora, na opinião dele, ocorre porque o investidor mais conservador resiste por um tempo à idéia de migrar para aplicações mais arriscadas e voláteis. Essa relação entre juros em queda e a ida do dinheiro para a bolsa não ocorreu apenas em países desenvolvidos. No Chile, por exemplo, há dois anos os fundos de ações representavam 4% do total de fundos. Hoje, depois do processo de queda dos juros, essas carteiras já são 12%. Na Argentina, pelos juros reais baixos, o investidor também aplica muito em bolsa, só que em ações brasileiras, já que o mercado acionário argentino é incipiente. Além de retornos menores na renda fixa, juros em queda possibilitam um crescimento consistente do país, com lucros crescentes para as empresas e um cenário de valorização das ações. "Não há motivo do Brasil não passar pelo o que passou a Espanha", completa Mendes. Para o presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto, esse processo já começou, num primeiro momento com o aumento da procura dos multimercados, que podem investir em ações, mas também têm um pé na renda fixa. No ano, essa categoria de fundos já capta R$ 8,4 bilhões. "O próximo passo será a entrada em fundos de ações puros", diz.(DC)