Título: Câmbio teve impacto de 2,1 pontos na queda do IPCA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Brasil, p. A3

A valorização da taxa de câmbio teve impacto positivo de 2,1 pontos percentuais na redução da inflação de 2005 - 5,7%, medida pelo IPCA -, segundo estudo divulgado ontem pelo Banco Central, que é parte integrante do relatório trimestral de inflação de março. Uma das principais conclusões da autoridade monetária é que, no Brasil, uma economia aberta, a taxa de câmbio se constitui num mecanismo relevante de transmissão da política monetária. Mas o BC sustenta que nem todo o efeito da apreciação cambial deve ser creditada à política de juros elevados. "Naturalmente, a apreciação cambial observada no ano não pode ser atribuída unicamente à ação de política monetária, tendo em vista o cenário externo extremamente favorável e os efeitos da percepção de risco-país das medidas de política econômica adotadas pelo governo para fortalecer a capacidade da economia a resistir a choques", diz o texto do BC. Pelo documento, que analisa o período que vai de 2001 a 2005, o ano de 2005 foi aquele em que a apreciação cambial teve o efeito mais importante na queda da inflação. Em 2004, por exemplo, o efeito positivo foi de 0,3 ponto percentual; em 2003, de 1,1 ponto. Nos anos anteriores, o cambio teve o efeito de pressionar a inflação. A inflação de 2005 incorporou ainda um efeito negativo de 0,8 ponto percentual da inércia inflacionária, acima do 0,3 ponto do ano anterior. O número não surpreende. O BC havia adotado uma meta ajustada de 5,1% para 2005, em vez dos 4,5% definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, porque aceitou acomodar um pouco da inércia inflacionária decorrente do excesso de inflação verificado em 2004. Quando divulgou a meta ajustada, o BC trabalhou com a perspectiva de acomodar na inflação 0,6 ponto percentual, referente a dois terços da inércia inflacionária - de 0,9 ponto - esperada para o período. O desvio da expectativa de inflação da meta teve um impacto de 0,3 ponto percentual na inflação de 2005, segundo o BC. Foi um impacto ligeiramente menor do que o 0,4 ponto verificado em 2004, e bem abaixo do 1,7 ponto ocorrido tanto em 2003 como em 2002. A queda da inflação decorrente do desvio das expectativas é sinal de credibilidade da política monetária, que faz com que os analistas econômicos projetem variações de preços próximas à meta. As maiores contribuições para a inflação foram dadas pela variação de preços livres, de 3,4 pontos percentuais, e de preços administrados. Nas estimativas, foram excluídos os efeitos do repasse cambial, da inércia e das expectativas. (AR)