Título: Presidente garante autonomia do BC
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Especial/ Mudança ministerial, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem que Henrique Meirelles continua no cargo de presidente do Banco Central; e assegurou que manterá a autonomia do BC para decidir sobre taxa de juros, indicando aos mercados que a política monetária trilhada pelo BC não está sujeita a mudanças com a troca do comando da economia. "Eu tive uma conversa hoje com o presidente Lula, que me reafirmou, mais uma vez, a autonomia do Banco Central e a possibilidade, o dever, o compromisso de continuarmos fazendo o trabalho que estamos fazendo, de permitir que a inflação se direcione para sua meta", informou Meirelles ao falar com jornalistas durante a posse do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Cumprimentei ontem pela manhã o ministro Guido Mantega, já tivemos a oportunidade de trabalhar juntos no início do governo e agora vamos voltar a trabalhar juntos, como colegas", sublinhou Meirelles. Perguntado insistentemente pelos jornalistas se Mantega mudaria a equipe do BC, Meirelles disse: "Essa pergunta não se coloca". De fato, com a aprovação da Medida Provisória 207, que deu ao presidente do BC status de ministro de Estado, a instituição passou a ser subordinada diretamente ao Palácio do Planalto e não mais ao ministério. Razão pela qual, quem telefonou e confirmou sua permanência no governo foi Lula e não Mantega. E toda a diretoria do BC é subordinada ao seu presidente, embora tenham que ser sabatinados e aprovados pelo Senado e nomeados ou exonerado por um ato do presidente da República. Cabe ao presidente da instituição, como ministro de Estado, definir, por portaria, as funções que cabe a cada diretor. Não há qualquer indicação de que a diretoria será trocada, mas Meirelles ontem lembrou a um interlocutor algo óbvio: ninguém é "imexível". Mantega e Meirelles, em momentos distintos, fizeram questão de assinalar que têm bom relacionamento, que conviveram de forma bastante cordial no Conselho Monetário Nacional e marcaram uma conversa para ontem mesmo. "Estamos sintonizados", declarou o novo ministro. No Ministério da Fazenda, a equipe está mudando. Mantega convidou o economista Carlos Kawall - diretor financeiro e de mercado de capitais do BNDES - para integrar sua equipe, mas ainda não há informação sobre o cargo de ocupará. O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, um dos colaboradores mais atuantes e bem preparados de Palocci, anunciou ontem que deixa o cargo para ocupar a vice-presidência de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O convite já havia sido feito no ano passado e, como Levy e Mantega têm visões totalmente diferentes sobre política fiscal, foi aceito. O secretário-adjunto do Tesouro, responsável pela administração dívida pública, José Antonio Gragnani, também sairá para fazer MBA no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em junho, mas ontem deixou claro que pretende ficar uns dias para fazer "uma transição tranqüila na gestão da dívida". O presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Marcos Lisboa, também pediu demissão e, na segunda-feira, o secretário-executivo, Murilo Portugal, já tinha anunciado a entrega do cargo. Dos sete secretários de Palocci, cinco devem permanecer. São eles: Jorge Rachid (Receita), Bernard Appy (Política Econômica), Luiz Pereira (Assuntos Internacionais), Helcio Tokeshi (Acompanhamento Econômico) e Manoel Felipe Rego Brandão (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional). (Colaborou Arnaldo Galvão)