Título: Em maio, um novo teste da campanha
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Política, p. A11
O governo espera analisar, neste fim de semana, resultados de pesquisas encomendadas por ele próprio, além de outras que sabe serão publicadas nos jornais, sobre os reflexos da crise política, especialmente dos últimos 10 dias de agonia do ex-ministro Antonio Palocci, na intenção de voto do eleitor na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem conhecer ainda nenhum número, assessores próximos ao presidente afirmam sentir que houve algum impacto.
Tanto que, ontem mesmo, as equipes de coordenação política e de campanha realizaram uma reunião para começar a discutir saídas políticas e retomada do projeto de reeleição, no momento em fase pessimista. Um dos interlocutores do presidente nos dois últimos dias relata seu estado de espírito com a demissão do amigo Palocci, a quem rendeu emocionadas homenagens no discurso de despedida, ontem: "Ele não está alegre, mas está firme".
Lula, agora, informam seus auxiliares, vai esfriar a cabeça. Uma vez passada a comoção com o afastamento de Palocci, o presidente espera retomar as condições de enfrentar, com ação, os resultados das pesquisas. Segundo avaliação de interlocutores do presidente, foram dez dias de intenso bombardeio sobre o principal ministro do governo. Nesse período, constatam assessores do Planalto, houve recrudescimento do trabalho das CPIs, "que caminhavam para um final remansoso", na definição de um dos ministros da coordenação política do governo. Isto teria sido provocado, nesta análise, pela recuperação dos índices de intenção de voto em Lula, que passou a ficar 20 pontos acima do governador Geraldo Alckmin no início de março.
"A oposição reagiu com dureza e houve um erro gravíssimo nosso", avalia este ministro, referindo-se à forma como o governo tratou o caso do caseiro Francenildo Costa, que teve seu sigilo bancário quebrado pela
-------------------------------------------------------------------------------- Lula deve virar a página e mudar a agenda -------------------------------------------------------------------------------- Assim teria ocorrido em 2002. Gráficos preparados pelo Vox Populi mostram que Roseana Sarney, Ciro Gomes, Garotinho, José Serra e o próprio Lula deram um salto nas pesquisas após a veiculação dos comerciais de TV. É claro que o PT terá também seu programa e seus comerciais, e poderá usá-los para explicar, rebater críticas e denúncias, mostrar o que fez. Mas o impacto desses comerciais, segundo avalia Coimbra, é maior para um candidato desconhecido. "Uma coisa é apresentar alguém que ninguém conhece; outra é mostrar uma pessoa conhecida por 99,5% da população, que está todo dia na TV. O que mais se tem para dizer?" A estação eleitoral de maio, portanto, favorece o PSDB. Embora nesses quase dois meses que faltam para veiculação dos comerciais, período longo como têm demonstrado as ondas de denúncias federais e estaduais que abalam os candidatos, haja tempo para tantos altos e baixos nas pesquisas quanto são os fortuitos acontecimentos políticos.
Alerta máximo
Desde as primeiras horas da manhã de ontem, o presidente Lula e seus principais assessores políticos estiveram atentos às entrevistas do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A que concedeu ao "Bom Dia Brasil", da TV Globo, provocou um certo nervosismo, porque a ela o governo atribuiu as reações negativas do mercado financeiro. Lula tivera o cuidado de falar, na véspera, com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exatamente para sinalizar que a manutenção da política econômica executada nos seus três anos e três meses de governo era uma decisão, e não apenas retórica. Alguns ministros próximos ao presidente também se surpreenderam com as atitudes de Mantega, que não teve o mesmo cuidado demonstrado pelo presidente. "O Guido não foi bem e estranhamos, pois na última reunião ministerial o que ele tinha falado para todo o governo era que estava de pleno acordo com a política econômica, e que sua única divergência era quanto ao grau, usou esse termo, da queda de juros", comentou um ministro. A síntese dessa questão, feita ao fim de um dia tenso no governo, todo mobilizado para apagar o fogo ateado pelo novo ministro, foi de um próximo auxiliar de Lula: "Há duas constatações: O presidente está absolutamente tranqüilo com relação a Guido Mantega. E não há nenhuma idéia de mexer no Banco Central."