Título: Oposição acusa Alckmin de distribuir "mensalinho" na Assembléia paulista
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Política, p. A11

Às vésperas de renunciar ao cargo de governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, tornou-se alvo do discurso inflamado da oposição, com a revelação de um suposto esquema de "mensalinho" na Assembléia Legislativa. Segundo denúncias investigadas pelo Ministério Público paulista, o banco estatal Nossa Caixa favorecia parlamentares na distribuição de verba publicitária, em troca de apoio no Legislativo. Os partidos adversários do governo na Assembléia conseguiram ontem a primeira vitória no caso, com a abertura de sindicância para investigar as denúncias. O maior obstáculo deve ser a instalação de uma CPI: a oposição tenta driblar as barreiras impostas pelos governo, que engavetou 69 pedidos de CPIs. A verba de publicidade do banco Nossa Caixa teria sido usada em jornais, revistas e programas mantidos ou indicados pelos deputados Wagner Salustiano e Vaz de Lima, do PSDB, Edson Ferrarini e Bispo Gê, do PTB e Afanasio Jazadji, do PFL. O governo estaria ligado ao esquema por meio do então assessor de comunicação do governador, Roger Ferreira, exonerado do cargo na segunda-feira. Uma troca de e-mails com o ex-diretor do Nossa Caixa revelou que Ferreira pedia atenção especial aos veículos de comunicação ligados a aliados de Alckmin. Um dos envolvidos na denúncia, o pefelista Afanasio Jazadji detalhou as verbas publicitárias que recebera: em dezembro de 2003, foram R$ 4 mil para o programa que apresenta na Rádio Trianon. Em outubro de 2004, recebeu outros R$ 4 mil para seis programas diferentes do Canal Comunitário. "São anúncios normais, mas fica evidente que o governador manipulava essa verba para dar aos seus apoiadores, em troca de voto", disse. "Eu também não podia falar mal do governo no meu programa. O governo só anunciaria no meu programa se eu não criticasse os secretários", relatou. Na Assembléia, o PFL é partido da base. Para a oposição, a denúncia era a fagulha que faltava para incendiar as críticas ao governador e tentar desfigurar o discurso de Alckmin de que o país precisa de um banho de ética, que seria dado por ele. Ontem , o deputado Romeu Tuma Jr. (PMDB), corregedor da Casa, instaurou sindicância para investigação do caso. Mas para a instalação de uma CPI a disputa será mais árdua e os deputados contam com a pressão popular e a interferência do presidente da Assembléia, Rodrigo Garcia (PFL). A demonstração maior da força do PSDB em impedir qualquer investigação é o engavetamento de 69 pedidos de CPIs. Ontem, não conseguiram convocar o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro nem Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, autor das denúncias, para prestarem depoimento aos deputados. "O PSDB não quer nenhuma investigação. Os argumentos que usam em Brasília contra o governo Lula são opostos em São Paulo", reclamou José Caldini Crespo (PFL). "O Executivo interfere no Legislativo e o governador, ao declarar que não o caso não precisa de investigação, acha que está acima do bem e do mal", disse. Líder do PT, Enio Tatto apontou que existem "justificativas de sobra". Na defesa de Alckmin, Edson Aparecido, o líder do governo, negou que haja dificuldades nas investigações pela Casa e atacou a oposição. "Agora é o jogo do tudo ou nada. O PT quer colocar todo mundo na vala comum", comentou. No primeiro momento, depois da publicação das denúncias, Alckmin disse que não havia nada a ser investigado, porque o banco já teria tomado as devidas providências. Ontem, recuou e disse que não vê problemas na instalação de uma CPI. "Nenhum problema que a Assembléia investigue e chame as pessoas, que abra CPI. O governo é absolutamente transparente e não temos compromisso com o erro", disse. Alckmin reforçou que "houve um erro formal, sem prejuízo à população" e saiu em defesa de Roger Ferreira. "Roger não precisava ter saído. Não tenho nenhum problema com assessor. Ele tomou essa decisão e eu aceitei o pedido", reforçou. Adversários do tucano aproveitaram as acusações para ironizar a afirmação feita pelo governador na semana passada, de que em seu governo não existem ladrões - "Aqui em São Paulo, podem ficar tranqüilos, aqui não tem ladrão. No nosso partido, nós podemos olhar nos olhos de cada um de vocês", disse Alckmin. "Precisamos de ética e coerência", alfinetou Romeu Tuma Jr.