Título: O senhor de todos os assombros
Autor: Santiago, Vandeck
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2010, Política, p. 2

À medida que aumentam as denúncias de contratação de servidores fantasmas, o senador Efraim Morais (DEM) está cada vez mais isolado na Paraíba. Nas ruas de João Pessoa, eleitores acreditam que ele não escapará da punição das urnas

Enviado especial João Pessoa (PB) ¿ A entrevista começou no gabinete dele, na Assembleia Legislativa, e acabou na praça João Pessoa, centro histórico da capital paraibana ¿ o deputado estadual Francisco de Assis Quintans (DEM) aceitou o desafio da reportagem de ir para a rua fazer a defesa do senador. ``Talvez fosse mais cômodo evitar me pronunciar sobre o assunto agora, mas meu pai não me criou assim. Eu não me curvo a pré-julgamentos¿, afirma ele. Engenheiro civil, professor da Universidade Federal da Paraíba, Quintans está há 30 anos na política ¿ mas não quer o mesmo destino nem para os filhos nem para os amigos: ¿Não quero filho meu nisso, não. Política é um ambiente muito cruel. Por isso que mandei logo os meus (são dois, um rapaz e uma moça) para estudar no exterior. Efraim Morais elegeu-se senador em 2002. Antes fora deputado estadual (por dois mandatos) e deputado federal (três mandatos). No Senado, presidiu a CPI dos Bingos e consolidou perfil de adversário do PT. É conhecido pela relação de proximidade que mantém com suas bases. ``Se ele encontrar com o vereador Preto, de Barra de Santa Rosa, lá no Curimataú, ele vai reconhecer o vereador e lembrar o nome dele. Tem uma memória¿``, diz o deputado. E se o vereador Preto telefonar para ele em Brasília, ele atende? ``Nesse momento, não, por causa dessa crise. Mas em situação normal, é claro que ele atende.`` A poucos metros da Praça João Pessoa fica o Ponto dos Cem Réis, outra praça, que historicamente tem sido o melhor termômetro político da cidade. Quer saber como está a avaliação do governo, as chances de um candidato majoritário e as possibilidade de um político acuado por denúncias escapar de algum tipo de condenação? Vá ao Cem Réis, sente-se no meio do povo e puxe conversa. Nesse roteiro, o otimismo do deputado Quintans com o destino do senador Efraim sai chamuscado. Em Brasília o senador vai escapar, porque lá tem muita porta pra sair de fininho. Mas aqui não vai, não. Se ele for candidato vai ser igual ao Ney: tchum!``, afirma o profissional liberal Antônio Carlos da Silva, 52 anos, passando o dedo no pescoço numa simulação de degolamento. O ``Ney`` a que ele se refere é Ney Suassuna (PMDB), acusado de participar de um suposto esquema de corrupção para beneficiar uma empresa privada e que perdeu a eleição para o Senado em 2006 (o vitorioso foi Cícero Lucena, PSDB). Uma das razões da derrota teria sido o desgaste causado pelas denúncias. Efraim é pré-candidato à reeleição, na chapa encabeçada por Ricardo Coutinho, do PSB (ex-prefeito de João Pessoa). O outro pré-candidato ao Senado, na mesma chapa, é Cássio Cunha Lima (PSDB), governador cassado em 2009, acusado de abuso de poder econômico e político em 2006. Entre aliados e adversários, a opinião hoje predominante é que Efraim deve abrir mão da candidatura à reeleição para disputar um mandato de deputado federal. O senador nega que isso esteja em suas cogitações. O projeto Ficha Limpa vai ser muito importante para nossa chapa``, garante o deputado Quintans. Diante do ar de surpresa do repórter, antecipa-se: ``A cassação de Cássio fez dele aqui uma vítima¿. E o caso de Efraim? ¿Não, não, aí é pré-julgamento, e pré-julgamento eu não vou fazer.``

Comissionados Como o Correio revelou na semana passada, o senador tem 68 funcionários comissionados em seu gabinete (a média no Senado é de 30). Desse total, 43 são dispensados da necessidade de comprovar presença, tendo o ponto abonado por Efraim. Trabalham em núcleos regionais na Paraíba, informou a assessoria do senador. Quando está em João Pessoa, Efraim costuma manter encontros na sede do DEM, partido do qual é presidente estadual ¿ mas lá ninguém aceita falar sobre a situação dos servidores do gabinete dele. O escândalo de supostos funcionários fantasmas do gabinete do senador estourou com a denúncia das irmãs Kelly e Kelriany Nascimento da Silva, feita na 13ª DP (Sobradinho). Os nomes delas constam como funcionárias do Senado, mas as duas afirmaram que nunca receberam os salários (de R$ 3,8 mil, cada uma). A assessora parlamentar do senador Mônica da Conceição Bicalho assumiu a responsabilidade pela contratação das duas, e disse que o parlamentar nada tinha a ver com o caso. Cada senador tem direito a uma verba de R$ 80 mil mensais para a contratação de funcionários comissionados. À medida que aumentam as denúncias contra o senador Efraim Morais (DEM-PB) em Brasília, diminuem na Paraíba os aliados dispostos a defendê-lo abertamente. A reportagem encontrou um, o deputado estadual Francisco de Assis Quintans (DEM). ``Aquele Congresso já destruiu a honra de muito homem de bem``, afirma ele, com ar grave e dedo em riste apontando para uma Brasília imaginária. ``Mas não vai conseguir fazê-lo com o nosso senador``, completa, em tom de desafio.