Título: Reforma em Congonhas pode reduzir vôos em até 50%
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Empresas &, p. B2

A Infraero e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) convocaram as principais companhias aéreas nacionais para uma reunião amanhã, em São Paulo, em que vão começar a negociar uma redução de até 50% no número de pousos e decolagens no aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do país. Em 2005, ele recebeu mais de 17 milhões de passageiros, com um fluxo médio diário de 600 pousos e decolagens das 5h às 22h. A princípio, o objetivo da Infraero, estatal que administra os aeroportos do país, e da Anac, novo órgão regulador do setor aéreo, é diminuir esse fluxo para 300 ou, no máximo, 400 operações diárias em Congonhas. Dois terços dos vôos retirados do aeroporto central de São Paulo seriam redirecionados para Cumbica (Guarulhos) e um terço para Viracopos (Campinas), segundo indicam estudos preliminares. Inicialmente, a intenção é negociar a migração de vôos fretados, de longa distância (acima de duas horas de duração) e aqueles que usam Brasília como escala para viagens à região Norte. Dessa forma, sairiam de Congonhas os vôos com destino a boa parte das cidades nordestinas, concentrando as operações para Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e para a maioria das cidades da região Sul. O incidente da semana passada com um avião da BRA em Congonhas, que derrapou ao tentar aterrissar no aeroporto, precipitou as negociações. No entanto, a redução do número de vôos já era avaliada. Em junho, a Infraero iniciará obras de manutenção na pista mais longa de Congonhas, que tem 1,9 mil metros de extensão. Só ficará livre a segunda pista, com 1,7 mil metros, que serve principalmente às decolagens para destinos curtos, como o Rio de Janeiro. Para usá-la, os aviões precisam diminuir o volume de combustível carregado, a fim de não prejudicar a aceleração. Daí a necessidade técnica de retirar vôos de longa distância. As operações serão transferidas majoritariamente para Guarulhos porque a Infraero pretende concluir mais ou menos no mesmo período, talvez em maio, a reforma da segunda pista do aeroporto. "Vamos discutir uma nova estratégia para Congonhas", afirma Leur Lomanto, um dos quatro diretores da Anac. Para a agência reguladora, o objetivo é garantir a segurança total das operações em Congonhas, uma vez que os técnicos da torre de controle vivem sobrecarregados. O órgão também quer melhorar o nível de conforto oferecido aos passageiros. A Infraero tem as mesmas idéias. "O aeroporto está próximo do seu limite", observa o presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, que assumiu o cargo na segunda-feira. "Temos que fazer uma engenharia operacional que evite prejuízos às empresas aéreas e, ao mesmo tempo, assegure as condições de segurança. Mas não tomaremos nenhuma medida de forma unilateral." Ouvido pelo Valor, o principal executivo de uma das grandes companhias nacionais demonstrou preocupação com a possibilidade de reduzir as operações em Congonhas, mas manifestou confiança no diálogo com a Anac. Para ele, um dos critérios que poderiam balizar as discussões seria a utilização dos números referentes à regularidade e à pontualidade dos vôos. Dessa forma, o executivo acredita que diminuiriam as chances de reduções arbitrárias e injustas dos "slots" (reservas de horários para pousos e decolagens) como fruto das negociações. Ele frisa que, em um aeroporto excessivamente movimentado como Congonhas, atrasos ou cancelamentos de vôos causam um efeito-cascata em todas as operações subseqüentes. Em fevereiro, a Gol atingiu a melhor marca de pontualidade nas operações domésticas, com 97% dos vôos saindo nos horários previstos. Em seguida vêm a TAM (96%), a Varig (88%) e a BRA (85%). No índice de regularidade, que apura cancelamentos de vôos, a BRA obteve 100% de desempenho. A TAM marcou 93% em fevereiro, enquanto Varig e Gol apresentaram índice de 90%. (DR)