Título: Alencar interfere e Varig segue operando
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Empresas &, p. B2

A Varig terá, amanhã, um dia decisivo para continuar operando. Pressionada pela Infraero, estatal que administra os principais aeroportos do país, tentará negociar um acordo para aliviar o pagamento de tarifas aeroportuárias. A diretoria da Infraero levantou a possibilidade de iniciar imediatamente a cobrança diária e à vista, em cada aeroporto em que a Varig opera. Sem o pagamento, os aviões da ficariam impedidos de decolar. A medida só não foi implementada ainda por causa da interferência direta do conselho de administração da estatal, presidido pelo vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar. Temeroso das conseqüências que a adoção do pagamento diário teriam sobre as operações da Varig, o conselho da Infraero decidiu esperar até quinta-feira. Uma reunião entre a diretoria da estatal e o presidente da empresa, Marcelo Bottini, deverá ocorrer em Brasília. O problema, desta vez, gira em torno de uma liminar obtida no fim de agosto por Varig e TAM. A liminar desobrigava as duas aéreas de recolher taxas aeroportuárias à Infraero - com exceção da tarifa de embarque, cobrada diretamente dos passageiros no momento da compra da passagem. Entre 1º de setembro de 2005 e 21 de março de 2006, quando a liminar foi derrubada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, a TAM acumulou um passivo de R$ 95 milhões e a Varig aumentou as suas dívidas com a estatal em R$ 116 milhões. A TAM, que havia feito provisões para enfrentar uma eventual decisão judicial desfavorável, depositou esses recursos na conta da Infraero, ainda na semana passada. A Varig não fez o mesmo e despertou irritação na diretoria da estatal. Além do novo passivo, a empresa tem dívidas de R$ 376 milhões com a Infraero. Desse total, apenas R$ 211 milhões estão securitizados. Isso levou a Infraero a fazer provisões em seu balanço, o que ampliou o prejuízo financeiro da estatal em 2005, que superou a marca de R$ 450 milhões. Como teve problemas anteriores com a Varig, a estatal quer cobrar diariamente as taxas aeroportuárias, que somam R$ 900 mil por dia. Se a empresa não encontrar uma forma de quitar a dívida acumulada desde setembro, a Infraero ameaça fazer a cobrança não só diariamente, mas em cada aeroporto, sem o que não autorizaria as decolagens. A assessoria de imprensa da Varig afirmou que, como a derrubada da liminar ainda não foi publicada no "Diário da Justiça" do Rio de Janeiro, não há exigência por enquanto de pagamento das taxas. A empresa informou que trabalha sob "restrições legais", cumprindo normas do plano de recuperação judicial em curso, e "acredita que algum acordo pode ser feito". A Infraero promete agir com firmeza, conforme aponta um diretor: "Não queremos tomar nenhuma medida em detrimento da recuperação da empresa, mas devemos cumprir a lei".