Título: Brasil piora classificação em ranking sobre TI
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Empresas &, p. B3

O Brasil piorou novamente seu desempenho e caiu mais seis posições no relatório de tecnologia da informação e comunicação elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. O país ficou em 52º lugar entre os 115 listados no ranking. A liderança ficou com os Estados Unidos, primeiro colocado em três das cinco edições do estudo. A Etiópia foi o último. No estudo divulgado no ano passado (referente a 2004), o Brasil já havia perdido sete posições e, em 2003/2004, outras dez. A classificação dos países observa três aspectos: nível de utilização de tecnologia; ambiente político e regulatório; e preparo (educação, treinamento, investimentos em pesquisas etc.). O Brasil foi relativamente bem no primeiro item, no qual saiu-se melhor do que nos anos anteriores. Porém, deixou a desejar nos dois últimos aspectos. Se fosse levado em conta apenas o ambiente regulatório, a classificação do país cairia para 80. Fatores como estabilidade da legislação (geral e específica do setor), burocracia, dificuldade para abrir uma empresa e pouca oferta de capital de risco fizeram o Brasil perder pontos na versão mais recente do ranking, divulgada ontem. "Vemos sérios problemas, há uma clara deterioração desses aspectos", afirma o boliviano Augusto Lopez-Claros, diretor de competitividade global e economista-chefe do Fórum. Para ele, o país usa mal a tecnologia da informação como instrumento de melhora na eficiência do Estado. De acordo com ele, as denúncias de corrupção envolvendo o governo federal também pesaram contra o desempenho brasileiro no último ano. "Não é uma questão central, mas é algo levado em conta pelo Fórum", diz. O economista aponta a burocracia estatal como um dos principais entraves ao desenvolvimento da indústria de tecnologia da informação no Brasil e ressalta que esse é também um problema de outros países latino-americanos. No entanto, diversas nações da região, como Argentina, Colômbia e Peru, melhoraram suas colocações no ranking. O Brasil é o segundo mais bem classificado entre os latinos, mas neste ano perdeu fôlego e ficou ainda mais distante do Chile, que subiu do 35º para o 29º lugar. Com a expansão das vendas de telefones celulares, computadores e acesso à internet em banda larga, o Brasil melhorou no item do levantamento que mede o grau de utilização de tecnologia. Nesse aspecto, está muito melhor do que a China - que caiu da 41ª para a 50ª posição do ranking geral deste ano. Lopez-Claros observa que, apesar do forte crescimento econômico experimentado pelo país, a grande massa da população chinesa ainda não tem acesso a telefone e internet. China e Brasil têm desempenho semelhante quando o assunto é educação - os dois países foram muito mal. "O conhecimento de matemática é surpreendentemente baixo", diz Lopez-Claros, referindo-se ao caso brasileiro. Na avaliação do economista do Fórum Econômico Mundial, a baixa qualidade do sistema educacional é um risco enorme. "O mundo está enfatizando mais e mais a educação. Países como Coréia e Cingapura têm se saído extremamente bem porque seus governos gastam um monte de dinheiro para educar as pessoas", afirma. "A América Latina é muito ineficiente em seus gastos e muitas vezes a burocracia da região gera empregos que destroem valor na economia."