Título: EUA e Rússia enfrentam adversidades
Autor: Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Agronegócios, p. B16

Nos EUA, a rentabilidade das empresas está em queda livre; na Argentina, uma indústria nascente tem seu desenvolvimento ameaçado; na Rússia, o consumo tombou. Reunidos ontem no "Poultry Latin America", evento organizado pela consultoria AgraFNP em São Paulo, representantes da cadeia produtiva de frango dos três países deixaram claro que dividem com colegas brasileiros temores quase idênticos em relação ao avanço da gripe das aves no mundo. "Os anos de 2004 e 2005 não serão esquecidos tão cedo pelas indústrias, já que a demanda de frango, e de carnes em geral, atingiu níveis sem precedentes. Este ano de 2006 será lembrado por outros motivos", disse George Watts, presidente do National Chicken Council dos EUA. Segundo maior exportador de carne de frango do mundo - embarques estimados em 2,4 milhões de toneladas em 2006 -, depois do Brasil, os EUA também sentem os efeitos da queda da demanda européia depois da chegada da gripe ao continente. E, apesar dos sinais de arrefecimento do pânico do consumidor europeu em relação ao produto, para Watts o estrago para a indústria local já está feito. Em seus cálculos, metade das empresas de frango dos EUA mantinham-se lucrativas em dezembro de 2005. Hoje, afirmou, o percentual caiu para 25%, e a tendência é de redução nos próximos meses. Com a queda da demanda, os estoques de cortes formados por coxa e sobrecoxa ("leg quarter"), por exemplo, mais que dobraram. Nesse contexto, a atual reação da demanda na UE é positiva, mas precisa ganhar fôlego. Na primeira semana de março, informou Watts, o consumo de carne de frango ficou 15% abaixo da média normal na França. Em meados de fevereiro, a retração no país chegou a 30% (ver matéria acima). Em contrapartida, na segunda-feira a cepa letal do vírus H5N1 foi identificada na República Checa, e ontem chegou à Dinamarca. É de se esperar, portanto, queda na demanda interna desses países. Na Argentina, o problema ainda passa ao largo, mas nem por isso é desprezível. O segmento no país é incipiente, mas há projetos em curso que dependem das exportações. É o caso da Avex, que está investindo US$ 40 milhões para construir um complexo fabril no país. "Estamos copiando boa parte da experiência brasileira. Em 2010, a produção argentina total poderá alcançar 1,8 milhão de toneladas, 500 mil destinadas ao mercado externo", disse Fernando Oris de Roa, executivo da empresa. Segundo ele, a Avex deve começar a exportar em 2007. A Argentina investe de olho na Rússia, maior país importador de carne de frango do mundo, com fatia de 16,5% nas compras em 2005. Mas, no mercado russo, a demanda despencou com os três surtos de influenza verificados desde julho. "A reação dos consumidores foi irracional e a queda da demanda foi brusca. Os prejuízos já somam US$ 250 milhões e a pressão por cortes nas cotas de importação de carnes é grande", afirmou Dimitri Rylko, diretor geral do Instituto para Estudos de Mercado Agrícola (Ikar). Independentemente da conjuntura atual, a Rússia vem investindo para fortalecer sua produção doméstica. O movimento também está em curso na área de suínos. Maior mercado externo para a carne suína brasileira, o segmento dividirá com a pecuária leiteira crédito oficial para financiamentos da ordem de US$ 550 milhões entre 2006 e 2007, conforme Rylko.