Título: Bolsa cai 2,6% e dólar vai a R$ 2,21
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Finanças, p. C1

Os mercados financeiros tiveram ontem um dia de tensão e oscilações bruscas por causa das mudanças na equipe econômica do Brasil e da perspectiva de alta maior do que a esperada nos juros básicos americanos pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos. Segundo analistas, a volatilidade vai continuar forte. O dólar terminou a R$ 2,209, em alta de 1,75% e na sua maior cotação de fechamento desde 2 de fevereiro. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 2,55%, também estimulada pelo tombo de 0,85% no Dow Jones, o índice das ações mais negociadas em Nova York. Os juros futuros dos contratos mais negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros, com vencimento em janeiro de 2008, subiram de 14,905% ao ano anteontem para 14,937% ao ano. O risco-Brasil também teve alta, de 1,69%, para 240 pontos básicos, pequena se for considerada a puxada de 0,08 ponto percentual nos juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos, para 4,778% ao ano, seu maior nível desde novembro. Na verdade, o mercado brasileiro já abriu nervoso com a troca do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por Guido Mantega, ex-presidente do BNDES. O dólar chegou a subir quase 3%. Mas, à tarde, se recuperou, com a Bolsa chegando até a subir. No entanto, a interpretação dos investidores de que o Fed vai continuar a subir as taxas básicas nos Estados Unidos depois da alta de 0,25 ponto percentual, para 4,75% ao ano ontem, fez a Bolsa voltar a cair no final da tarde, seguindo Nova York. Nos mercados futuros americanos, os investidores passaram a apostar que os juros básicos dos EUA poderão chegar a até 5,25% ao ano. Juros americanos mais altos tornam menos atrativos os investimentos em ações e papéis de países emergentes, como o Brasil. A saída de Palocci já era esperada, mas seu sucessor, Guido Mantega, surpreendeu investidores, diz a equipe de economistas do Barclays Capital, em relatório. A debandada na Fazenda - saíram o secretário-executivo Murilo Portugal, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o subsecretário do Tesouro, José Antonio Gragnani - trouxe incertezas sobre substitutos e sobre qual a orientação a ser adotada. "O grupo que vinha dando apoio à política fiscal austera e negando ampliação nos gastos públicos, apesar da crescente demanda, está aparentemente saindo com o senhor Palocci", disse Marcelo Salomon, economista do Unibanco. O resultado pior do que o esperado no superávit fiscal primário (sem considerar juros) para fevereiro, de R$ 4,7 bilhões, em relação aos R$ 6,2 bilhões estimados pelo mercado, contribuiu para ampliar a tensão, pois indica maiores gastos públicos. Os rumores de trocas na diretoria do Banco Central não ajudaram. Bancos como o JP Morgan reduziram sua recomendação para os títulos da dívida externa brasileira de "overweight" (peso maior do que a média da carteira) para "neutral" (dentro da média da carteira), segundo a "Reuters". O banco também aconselhou os investidores a venderem reais para embolsar lucros. "Os investidores estrangeiros deveriam é aproveitar o mercado mais volátil para comprar ativos brasileiros, pois o nível atual de juros em reais continua extremamente atrativo", disse, em passagem por São Paulo ontem o economista-chefe mundial do UBS, Klaus Wellershoff. O que foi feito nos últimos quatro anos, em termos de política macroeconômica, não foi feito por apenas uma pessoa, disse, ressaltando que o progresso nos fundamentos da economia "não pode simplesmente ser desfeito" com a queda de Antonio Palocci. Os analistas do HSBC também resolveram manter a posição "overweight" para os títulos da dívida da dívida do Brasil, segundo relatório, pois os fundamentos do país continuam sólidos e eles não acreditam em mudanças na política econômica.