Título: Queda de juro não será "drástica", diz Bernardo
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A3

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou ontem que o país tem as condições necessárias para continuar diminuindo as taxas de juros, inclusive a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Mas não deverá ser nada drástico. "Não aposto em nada drástico, aposto em coisas viáveis, consensuadas, conversadas e embasadas tecnicamente", disse ele no fim da tarde, em Belo Horizonte. Bernardo evitou, entretanto, dar opinião sobre a proposta que o novo titular da Fazenda, Guido Mantega, deverá fazer hoje, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), de corte de um ponto percentual na TJLP a partir de abril, e um segundo corte semelhante no trimestre seguinte. "Quero ouvir a explicação do ministro Mantega", disse ele. "A ponderação do ministro Guido Mantega é uma ponderação respeitada, nós sabemos que ele tem bagagem. Por isso vamos sentar com ele e vamos discutir." O ministro do Planejamento salientou que qualquer decisão terá de ser tomada com base em fundamentos técnicos. "Não é uma questão de opinião acadêmica ou pessoal", argumentou Bernardo. "Vamos fazer uma discussão sobre o impacto, a conveniência, o momento." Bernardo refutou a interpretação corrente de que a participação de Mantega na reunião da Conselho Monetário Nacional será influenciada pelo fato de estar deixando a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição diretamente afetada pela TJLP. "Um jogador do Galo que vai jogar no Flamengo, certamente vai querer fazer gol do outro lado", brincou. Para Paulo Bernardo, é fundamental manter as premissas da política econômica para que ela seja "previsível". Os agentes econômicos, afirmou ele, precisam ter condições de projetar e perceber o que vai acontecer no fim deste ano ou daqui a dois anos. O ministro não descartou a possibilidade de ser um "fiel da balança" entre as opiniões do novo ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Talvez (isso) seja uma possibilidade, não sei", comentou. "Não conversei ainda com o Henrique Meirelles e não tive oportunidade de falar com o Guido." O ministro do Planejamento ainda defendeu a decisão do Tesouro Nacional de cancelar a emissão de títulos depois do anúncio das mudanças na equipe econômica. "Se o mercado estava nervoso, o Tesouro agiu bem em cancelar e deixar a turma esfriar a cabeça", afirmou. Os leilões, segundo ele, podem ser feitos depois. O mais importante é mesmo contribuir para a retomada da tranqüilidade no mercado. "O Tesouro Nacional fez um trabalho inestimável para ajudar a manter (a tranqüilidade)." Paulo Bernardo classificou de "normal" e "mínima" a agitação no mercado financeiro com a queda do ministro Antonio Palocci.